Decomposição da insulina
Cientistas da Clínica Mayo de Jacksonville (EUA) demonstraram a viabilidade de uma nova e promissora estratégia para o tratamento em seres humanos do diabetes tipo 2, que afeta mais de 200 milhões de pessoas em todo o mundo.
No diabetes tipo 2, o organismo pára de responder eficientemente à insulina, um hormônio que controla o nível de açúcar no sangue.
Para compensar a insensibilidade à insulina, muitos medicamentos para o diabetes fazem aumentar os níveis da substância - por exemplo, injetando mais insulina ou elevando a quantidade secretada pelo pâncreas.
O novo estudo, publicado no jornal científico PLoS ONE, mostrou que um método diferente também pode ser eficaz no tratamento do diabetes - a saber, é possível a decomposição da insulina, depois que ela é secretada pelo pâncreas.
"Os níveis de insulina no sangue refletem o balanço entre o volume que é secretado e a rapidez com que é decomposta", diz o principal pesquisador do estudo, Malcolm A. Leissring, Ph.D., do Departamento de Neurociência da Clínica Mayo. "Impedir a decomposição da insulina é, simplesmente, um método alternativo para atingir o mesmo objetivo de muitas terapias já existentes para diabetes", declarou.
Nocaute molecular
Os pesquisadores testaram a ideia através de estudos de camundongos, nos quais a enzima degradante da insulina (IDE - insulin-degrading enzyme) era "nocauteada" ou "deletada" geneticamente.
A IDE é uma "máquina" molecular que, normalmente, danifica o hormônio insulina, quebrando-a em pequenos fragmentos. Os níveis de insulina no sangue são controlados, em parte, por esse processo.
Em comparação com camundongos normais, os camundongos em que a IDE foi nocauteada tinham mais insulina, no geral, pesavam menos e eram mais eficientes no controle das taxas de açúcar no sangue. Eles eram, de fato, "super camundongos", com respeito à habilidade deles de reduzir o nível de açúcar no sangue após uma refeição, um processo que é interrompido pelo diabetes, explica Malcolm Leissring.
Essas descobertas sugerem que medicamentos que inibem a IDE podem ser úteis no tratamento do diabetes. A equipe de Malcolm Leissring está trabalhando ativamente para desenvolver tais medicamentos.
Modelo imperfeito
Como foi relatado em um estudo separado no PLoS ONE, no ano passado, Malcolm Leissring e seus colegas desenvolveram o primeiro inibidor potente e seletivo da IDE.
A equipe da Mayo desenvolveu agora inibidores da IDE mais próximos a um medicamento, que está preparando para testar em modelos animais para o tratamento do diabetes.
"A razão de estudarmos camundongos com a IDE nocauteada foi a de nos ajudar a entender se os inibidores dessa enzima seriam úteis para o tratamento do diabetes", diz o autor principal do estudo, Samer Abdul-Hay, Ph.D.
Mas os camundongos com a IDE nocauteada não constituem um modelo perfeito para a avaliação do desempenho de um medicamento, ele observa. "Eles são, na verdade, um modelo melhor de dose excessiva em um inibidor da IDE. Não iríamos querer um medicamento que inibisse a IDE 100 por cento em todos os tecidos, por toda a vida", afirma.
Coisas boas que se tornam ruins
O efeito de extinguir todas as IDE nos camundongos foi tão forte, de fato, que essa ação, com o tempo, saiu pela culatra, dizem os pesquisadores.
Apesar de serem "super camundongos", quando jovens, conforme os camundongos com a IDE nocauteada envelheceram, eles se tornaram resistentes, lentamente, a níveis elevados de insulina, ganharam peso e perderam o controle de seu açúcar no sangue. Por isso, os camundongos mais velhos desenvolveram o diabetes tipo 2 clássico.
"A descoberta de que camundongos mais velhos, com a IDE nocauteada, desenvolveram diabetes confundiu muita gente", diz Malcolm Leissring. "É um exemplo de que muito de uma coisa boa se torna ruim para você", explicou.
A expectativa é de que os medicamentos que inibem a IDE apenas parcialmente ou apenas transitoriamente não causem diabetes. "Deletar todas as IDE é matar demais", afirma.
Início do diabetes
Os pesquisadores dizem que o estudo da Mayo também trouxe implicações interessantes para o entendimento sobre a forma que o diabetes começa.
"Deletar a IDE produz níveis elevados de insulina - uma doença conhecida como hiperinsulinemia. O diabetes é visto, normalmente, como um causador de hiperinsulinemia, não o contrário", diz o pesquisador.
Mesmo assim, nos camundongos com a IDE nocauteada, a hiperinsulinemia crônica parece, realmente, ter causado o diabetes. À medida que envelheceram, os camundongos deram a impressão de se adaptar a níveis cronicamente altos de insulina, por exemplo, reduzindo a quantidade de receptores de insulina em seus tecidos. "Essas adaptações tornaram os camundongos menos sensíveis à insulina, o que é exatamente a causa do diabetes tipo 2", explica.
Se essas descobertas se aplicam a humanos não está claro, adverte Malcolm Leissring. Ele diz que essas novas descobertas "representam estágios ainda iniciais, mas estimulantes", de um novo curso da pesquisa do diabetes. Ele recebeu, recentemente, uma subvenção de cinco anos de desenvolvimento de carreira da Associação Americana de Diabetes, que vai ajudar a dar suporte a essa linha de pesquisa.
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