Ácido fólico natural
Pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) estão desenvolvendo novos produtos para suprir as necessidades do ácido fólico, o único suplemento alimentar que tem passado nos testes de proteção à saúde.
O ácido fólico também é conhecido como vitamina B9 ou folato.
Os produtos desenvolvidos pela equipe contêm até 20% da necessidade diária desse nutriente, com a vantagem de utilizar a sua forma natural, e não o similar produzido sinteticamente.
O consumo excessivo de ácido fólico sintético está associado a alguns efeitos indesejados. Ele pode, por exemplo, mascarar a deficiência de vitamina B12, que pode levar a problemas neurológicos e anemia.
"O que está descrito na literatura [científica] é que, ao consumir as formas naturais da vitamina, não ocorre esse problema," explicou Marcela Albuquerque, responsável pela pesquisa.
Suplementação com ácido fólico
Para produzir a vitamina B9, as pesquisadoras utilizam cepas de bactérias lácticas, que são seguras para o consumo humano e que já são empregadas pela indústria de alimentos.
"Após serem submetidas a determinadas condições, dependendo dos nutrientes disponíveis no meio, do pH e da temperatura, as bactérias que possuem os genes relacionados à biossíntese de folatos podem produzir a vitamina. Depois, selecionamos as cepas com maior produtividade e aplicamos para o desenvolvimento de um produto fermentado, como leite ou iogurte," explicou a pesquisadora Ana Clara Cucick.
Segundo a pesquisadora, muitos países aderiram a programas de fortificação obrigatória de alimentos para combater a deficiência de folato. No Brasil, por exemplo, as farinhas de trigo e milho são fortificadas com ferro e ácido fólico para prevenir a anemia em crianças e más-formações nos fetos.
Essa estratégia trouxe benefícios, como a redução de aproximadamente 30% na ocorrência de doenças do tubo neural em bebês, segundo relatório divulgado em janeiro de 2021 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Leite e soja fermentados
A política de suplementação, contudo, tem sido alvo de preocupação devido aos possíveis efeitos colaterais advindos da ingestão excessiva do ácido fólico, que está sendo fornecido em sua forma sintética.
Por isso a equipe está trabalhando no desenvolvimento de produtos que forneçam o ácido fólico natural.
Um leite fermentado sintetizado pela equipe, por exemplo, fornece 20% da recomendação diária de ingestão de vitamina B9 em uma porção de 250 mililitros. O produto também foi testado em animais para avaliar a biodisponibilidade do nutriente, ou seja, o quanto da vitamina contida no leite fermentado é aproveitado pelo organismo. Os animais que consumiram o alimento tiveram um aumento de glóbulos vermelhos e hemoglobinas, mostrando que ele pode ser uma alternativa promissora para aumentar a ingestão de folato.
Outro produto desenvolvido pela equipe, uma bebida de soja fermentada que aproveita ainda um subproduto do maracujá, descartado pela indústria, alcançou 14% da indicação diária de consumo da vitamina, além de conter microrganismos probióticos.
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