30/09/2019

Você gosta de adrenalina? Talvez você goste mesmo é de osteocalcina

Redação do Diário da Saúde
Bone, not adrenaline, drives fight or flight response
São os ossos que liberam o hormônio necessário para lidar com as situações de muito estresse.
[Imagem: Julian Meyer Berger et al. - 10.1016/j.cmet.2019.08.012]

Adeus adrenalina

Ligue em qualquer programa de esportes ou aventuras, e é grande a chance de que você ouça a palavra "adrenalina" no mínimo uma vez.

Vai ser difícil mudar esse costume, mas podem ser os ossos, e não o hormônio adrenalina - ou epinefrina -, os responsáveis pela preparação do organismo para grandes feitos, que os cientistas normalmente chamam de "resposta de luta ou fuga".

Quando confrontados com um predador ou com um perigo repentino, a frequência cardíaca aumenta, a respiração se torna mais rápida e o combustível na forma de glicose é bombeado por todo o corpo para preparar a pessoa - ou um animal - para lutar ou fugir.

Os cientistas afirmam há décadas que essas mudanças fisiológicas - que constituem a resposta de "fugir ou lutar" - sejam desencadeadas pelo hormônio adrenalina, pelo menos em parte.

Osteocalcina

Agora, pesquisadores da Universidade de Colúmbia (EUA) afirmam que os animais vertebrados não conseguem reunir essa resposta ao perigo sem contar com o seu esqueleto.

Trabalhando com animais de laboratório e com voluntários humanos, eles demonstraram que, quase imediatamente após o cérebro reconhecer o perigo, ele instrui o esqueleto a inundar a corrente sanguínea com o hormônio osteocalcina, derivado dos ossos, que é essencial para ativar a resposta de luta ou fuga.

"Nos vertebrados ósseos, a resposta ao estresse agudo não é possível sem a osteocalcina. Isso muda completamente a maneira como pensamos sobre como as respostas ao estresse agudo ocorrem," disse o professor Gérard Karsenty.

Por que os ossos?

Para os pesquisadores, é natural que os ossos sejam os responsáveis por esse mecanismo de defesa.

"A visão dos ossos apenas como um conjunto de tubos calcificados está profundamente arraigada em nossa cultura biomédica," disse Karsenty. Mas, cerca de uma década atrás, ele e sua equipe demonstraram que o esqueleto apresenta influências em outros órgãos até então desconhecidas.

A pesquisa revelou pela primeira vez que a osteocalcina tem efeitos de longo alcance, viajando pela corrente sanguínea para afetar as funções da biologia do pâncreas, cérebro, músculos e outros órgãos. Desde então, uma série de experimentos mostrou que a osteocalcina ajuda a regular o metabolismo, aumentando a capacidade das células de absorver glicose, melhora a memória e ajuda os animais a correrem mais rápido e terem maior resistência.

E por que os ossos têm todos esses efeitos em outros órgãos, aparentemente não relacionados à sua função?

"Se você pensar nos ossos como algo que evoluiu para proteger o organismo do perigo - o crânio protege o cérebro de traumas, o esqueleto permite que os vertebrados escapem dos predadores, e até os ossos do ouvido nos alertam para a aproximação do perigo - as funções hormonais da osteocalcina começam a fazer sentido," defende Karsenty.

Se os ossos evoluíram como um meio de escapar do perigo, faz sentido que eles estejam também envolvidos na resposta aguda ao estresse, que é ativada na presença de perigo. "Isso nos mostra que os níveis circulantes de osteocalcina são suficientes para conduzir a resposta aguda ao estresse," diz Karsenty.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Mediation of the Acute Stress Response by the Skeleton
Autores: Julian Meyer Berger, Parminder Singh, Lori Khrimian, Donald A. Morgan, Subrata Chowdhury, Emilio Arteaga-Solis, Tamas L. Horvath, Ana I. Domingos, Anna L. Marsland, Vijay Kumal Yadav, Kamal Rahmouni, Xiao-Bing Gao, Gerard Karsenty
Publicação: Cell Metabolism
DOI: 10.1016/j.cmet.2019.08.012
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