17/06/2024

EUA lançaram campanha de difamação de vacinas chinesas durante a pandemia

Baseado em artigo de Gianluca Riccio - Futuro Prossimo
EUA lançaram campanha de difamação de vacinas chinesas durante pandemia de covid-19
"Por que vocês fizeram isso enquanto as pessoas estavam morrendo? Estávamos desesperados."
[Imagem: Gerado por IA/DALL-E]

Campanha contra vacinas chinesas

Algumas notícias revelam o lado negro do poder, aquele que espezinha sem escrúpulos os direitos e a dignidade das pessoas de protegerem a própria, sobretudo durante uma época de consternação mundial, como durante a pandemia de covid-19.

É o caso da perturbadora história trazida à luz por uma investigação da agência de notícias Reuters, que expôs como o Pentágono, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, conduziu uma campanha antivacina e de desinformação pública para desacreditar as vacinas anti-covid produzidas pela China, justamente no momento de maior emergência da pandemia.

A operação se baseou em propagandas que puseram em risco a vida de cidadãos inocentes, considerados peões dispensáveis no tabuleiro de xadrez da competição geopolítica global entre superpotências.

A investigação da Reuters revelou detalhes do programa ultrassecreto chamado "Operação Velocidade de Dobra" (Warp Speed), lançado pela administração de Donald Trump em 2020. O objetivo era atrapalhar os esforços da China para promover e distribuir vacinas contra a covid nos países em desenvolvimento. Segundo as revelações, o Pentágono circulou uma série de postagens e memes nas redes sociais com o objetivo de insinuar dúvidas sobre a eficácia e a segurança dos medicamentos chineses, retratando-os como "perigosos" e "não testados".

"Não estávamos olhando para isso do ponto de vista da saúde pública," admitiu sem rodeios um oficial militar sênior envolvido no programa. "Estávamos procurando uma maneira de arrastar a China pela lama." Daí a amarga campanha contra o "vírus da China", como o definiu o então presidente Donald Trump, e também contra a "China Vax".

Vidas em risco por motivos geopolíticos

Um aspecto ainda mais perturbador e moralmente questionável da campanha secreta norte-americana é que o Pentágono não teria hesitado em pôr em risco a vida de cidadãos inocentes dos países visados pela campanha, considerados como "danos colaterais" dispensáveis no altar da competição entre superpotências.

Entre os países mais afetados pela propaganda antivacina norte-americana contra as vacinas chinesas está as Filipinas, que nos primeiros meses de 2021 enfrentou mais de 100.000 infecções com vacinas insuficientes. Apesar dos apelos desesperados por ajuda, os Estados Unidos optaram por se concentrar primeiro na imunização dos seus cidadãos, para então lançar a campanha sorrateira para desacreditar as únicas vacinas disponíveis para aquela população naquela altura.

As consequências da guerra suja foram dramáticas. Num país já abalado pelo ceticismo em relação às vacinas, alimentado por controvérsias anteriores, a campanha de desinformação norte-americana ajudou a exacerbar a desconfiança pública, prejudicando os esforços das autoridades de saúde. Basta dizer que em junho de 2021, o presidente filipino Rodrigo Duterte viu-se forçado a ameaçar de prisão os cidadãos que se recusassem a ser vacinados.

"Tenho certeza de que muitas pessoas morreram de Covid quando não havia necessidade," comentou Esperança Cabral, ex-secretária de Saúde do país. "Por que vocês fizeram isso enquanto as pessoas estavam morrendo? Estávamos desesperados," acrescentou a Dra Nina Castillo-Carandang, ex-assessora da OMS e do governo filipino durante a pandemia.

Vários especialistas norte-americanos em saúde pública consultados pela Reuters também condenaram abertamente a operação, qualificando a campanha de "indefensável" do ponto de vista ético e sanitário. "Estou extremamente consternado, desapontado e desiludido ao saber que o governo dos EUA poderia ter feito tal coisa", disse Daniel Lucey, especialista em doenças infecciosas da Escola Geisel de Medicina de Dartmouth.

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