Mais uma evidência colocou em xeque a visão científica tradicional sobre os sonhos.
Para os neurocientistas, um sonho é uma experiência de imaginação do inconsciente durante nosso período de sono, revivendo imagens e situações ocorridas durante o período de vigília.
Contudo, Isabelle Arnulf e seus colegas da Unidade de Distúrbios do Sono da Universidade Pierre e Marie Curie (França) apresentaram estudos de caso de pacientes com déficit de auto-ativação que relatam sonhos quando despertados do sono REM - mesmo que esses pacientes apresentem um vazio mental durante o dia.
Transtorno de Auto-Ativação
O estudo prova que mesmo pacientes com Transtorno de Auto-Ativação (TAA) têm a capacidade de sonhar.
O TAA (Transtorno de Auto-Ativação) é causado por danos bilaterais nos gânglios basais.
É uma síndrome neurofísica caracterizada por uma apatia extrema, incluindo a falta de ativação do pensamento e uma perda de comportamento espontâneo.
Os pacientes com TAA devem ser estimulados por seus cuidadores para fazerem as tarefas mais básicas, como levantar-se, comer e beber.
Quando se pergunta a um paciente com TAA "O que você está pensando?", a resposta típica é a de não haver nenhum pensamento.
Teorias sobre os sonhos
Para as neurociências, durante o sono o cérebro está funcionando em caráter exclusivamente interno - no sono REM, as áreas corticais seriam estimuladas internamente pelo tronco cerebral.
Quando despertos, indivíduos normais lembram-se de alguns dos sonhos associados com o seu estado de sono anterior, especialmente durante o sono REM.
Nesse contexto, existem basicamente duas teorias que tentam explicar os sonhos.
A teoria "de cima para baixo" (top-down) propõe que o sonho começa nas estruturas de memória do córtex superior e então "retorna", como a imaginação se desenvolve durante a vigília.
A teoria "de baixo para cima" (bottom-up) postula que as estruturas do tronco cerebral, que provocam os movimentos oculares rápidos e a ativação do córtex durante o sono REM resultam nos elementos emocionais, visuais, sensoriais e auditivas de sonhar.
Sonhos cerebrais
A constatação do sonho em pacientes com TAA praticamente descarta a teoria top-down, já que esses pacientes têm o que os pesquisadores chamam de "mente vazia" durante todo o dia.
Eles relatam, por exemplo, sonhos incluindo eles próprios desempenhando tarefas que não desempenham no dia-a-dia.
Ainda que alguns cientistas afirmem até que é possível construir uma máquina para gravar sonhos, outras áreas de estudo, fora das neurociências, têm interpretações dos sonhos bem mais amplas, e menos "cerebrais".
Uma das mais atuantes atualmente é a área dos chamados sonhos lúcidos.
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