23/04/2024

Extrair DNA de animais fossilizados em âmbar ainda é ficção científica

Com informações do Jornal da USP
Extrair DNA de animais fossilizados em âmbar ainda é ficção científica
Amostras de resina copal - não é âmbar - estudado recentemente por uma equipe da Alemanha e da Espanha.
[Imagem: David Peris et al. - 10.1371/journal.pone.0239521]

DNA no âmbar

A extração de DNA de animais e plantas fossilizados em âmbar, uma técnica divulgada na série Parque dos Dinossauros, ainda está distante da realidade, afirmam cientistas.

Derivado de uma resina vegetal, transformada após vários processos naturais em fóssil cristalizado, o âmbar possui grande importância em estudos históricos e biológicos. "Esse âmbar contém substâncias, textura e densidade que ajudam a planta a cicatrizar feridas. É uma substância curativa, um autocurativo que a planta faz. Muitas vezes ela jorrava e formava uma grande massa e os animais ficavam presos, ou ela mesmo se soltava do tronco, caía e ia parar na água ou no chão da floresta e envolvia algum material," explica o professor Luiz Eduardo Anelli, do Instituto de Geociências de USP.

Mas coletar DNA dessas amostras é outra coisa. Apesar de interessante, esse cenário é utópico, e a única extração de DNA possível, por enquanto, é a realizada em âmbares mais recentes, conhecidos como copal, como foi o caso do estudo recente feito por pesquisadores da Alemanha (universidades de Bonn e Frankfurt), Espanha (Universidade de Barcelona e Instituto Geológico de Mineiro) e Noruega (Universidade de Bergen).

O âmbar pode ser encontrado no mundo inteiro e com diferentes idades, sendo o mais antigo já encontrado com cerca de 300 a 350 milhões de anos de idade, do período carbonífero. "Depois disso, a gente encontra já da Era Mesozoica, âmbar do Período Triássico, dos primeiros dinossauros. Em grande volume, ele aprisionava material, então a gente consegue conhecer alguns insetos e pequenos animais que conviveram com os primeiros dinossauros," disse Anelli.

Há algumas amostras famosas, como os âmbares encontrados no Líbano, com cerca de 120 milhões de anos, em Mianmar, com cerca de 100 milhões de anos, e na Rússia, onde mais de 400 toneladas de âmbar são encontradas por ano. No Brasil, há apenas âmbares microscópicos, capturando apenas pequenos protozoários em seu interior.

Extrair DNA de animais fossilizados em âmbar ainda é ficção científica
O âmbar pode ser encontrado no mundo inteiro e com diferentes idades, mas extrair DNA de suas amostras ainda é ficção científica.
[Imagem: Didier Descouens/Wikipédia]

Importância do âmbar e suas amostras

De fato, âmbares muito antigos são importantes para o estudo da história do planeta, revelando desde características de animais e plantas até a composição atmosférica da época, ou mesmo doenças encontradas em sangue contaminado dentro de mosquitos e outros parasitas preservados nessas gemas.

"O âmbar é o sarcófago de ouro, a tumba mais espetacular e preciosa que a gente poderia ter. De certo modo ele viajou daquela época até o futuro e a gente consegue conhecer o que existiu por lá. É a máquina mais sofisticada que a natureza inventou, ele é uma janela que a gente abre e vê o mundo pré-histórico que nenhuma outra rocha foi capaz de mostrar,' disse Anelli.

Mas extrair DNA dessas amostras é outra história.

"Na vida real, os cientistas têm tentado extrair DNA não do potencial sangue de dinossauros que estaria no estômago do mosquito, mas do próprio mosquito, para usar esse exemplo. Apesar dessa ideia parecer boa, a preservação de DNA e demais biomoléculas em estruturas encontradas no âmbar é longe de ser satisfatória, uma vez que temos um grande problema de possível contaminação por DNA recente," explicou a professora Maria Mercedes Okumura, do Instituto de Biociências (IB) da USP.

Além disso, existe um debate no meio científico sobre a legitimidade de estudos que afirmam conseguir esse feito, já que, devido à pequena estrutura das amostras, destruídas na análise inicial e sem deixar a possibilidade do material ser analisado em algum outro laboratório, há uma limitação grave na possibilidade de replicação dos alegados resultados.

Por outro lado, parece haver a possibilidade de recuperação de DNA a partir de estruturas preservadas em resina, mas que são amostras muito mais recentes do que aquelas de milhões de anos atrás, ainda chamadas de copal - como foi o caso do estudo relatada anteriormente.

"Não quer dizer que o estudo dessas estruturas preservadas em âmbar não seja importante do ponto de vista genético, mas é importante chamar atenção para os inúmeros desafios que envolvem esse tipo de pesquisa. E aí entra o papel de cientistas que, atualmente, vêm trabalhando nesses temas, vêm propondo protocolos e procedimentos para a realização desses estudos, de modo que a gente prossiga desenvolvendo técnicas que possam gerar conhecimento acerca desses genomas ou pedaços de genomas bem antigos, sem correr o risco de a gente ser muito descuidado, gerando falsos resultados," concluiu Maria Mercedes.

Checagem com artigo científico:

Artigo: DNA from resin-embedded organisms: past, present and future
Autores: David Peris, Kathrin Janssen, H. Jonas Barthel, Gabriele Bierbaum, Xavier Delclòs, Enrique Peñalver, Mónica M. Solórzano-Kraemer, Bjarte H. Jordal, Jes Rust
Publicação: PLoS ONE
DOI: 10.1371/journal.pone.0239521
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