23/03/2017

Intestinos têm reservatório de células-tronco resistentes à quimioterapia

Redação do Diário da Saúde
Intestinos têm reservatório de células-tronco resistentes à quimioterapia
As células-tronco descobertas no intestino são resistentes aos efeitos colaterais da quimioterapia.
[Imagem: F. Barriga et al. - IRB Barcelona]

Células-tronco quiescentes

As surpresas não param de surgir à medida que nossos intestinos são estudados mais a fundo: apenas nos últimos meses se descobriu que nosso intestino funciona como um "segundo cérebro", podendo nos proteger contra doenças neurológicas, e possui conexões estreitas com o sistema imunológico.

O intestino tem uma alta taxa de regeneração celular devido ao desgaste originado pela sua função de degradação e absorção dos nutrientes e eliminação dos resíduos - a parede celular inteira é renovada uma vez por semana, aproximadamente. Isto explica porque o intestino possui um grande número de células-tronco em constante diferenciação, para fornecer as células novas necessárias a essa renovação acelerada.

Agora se descobriu que nossos intestinos possuem também um grupo de células-tronco com características muito diferentes dessas células-tronco abundantes e ativas já conhecidas. Estas novas células-tronco são quiescentes, ou seja, não proliferam e aparentemente estão adormecidas, prontas para entrar em ação quando for necessário.

Células de reserva

O professor Francisco Barriga, do Instituto de Investigação em Biomedicina de Barcelona (Espanha), cuja equipe fez a descoberta, calcula que esse reservatório de células-tronco contém uma célula quiescente para cada 10 células-tronco intestinais ativas.

Em condições saudáveis, estas células não têm nenhuma função aparente. No entanto, elas são importantes em situações de estresse, por exemplo, após a quimioterapia, em processos inflamatórios e em infecções - todas condições nas quais a população de células-tronco normais, ou ativas, está esgotada.

Intestinos têm reservatório de células-tronco resistentes à quimioterapia
Há fortes indícios de que a doença de Parkinson começa no intestino e migra para o cérebro.
[Imagem: Cortesia Veena Prahlad/University of Iowa]

Nestes casos, as células quiescentes entram em ação para regenerar o órgão, dando origem aos vários tipos de células presentes no intestino, renovando a população de células-tronco normais e restaurando o equilíbrio do órgão.

Contra os efeitos colaterais da quimioterapia

Eduard Batlle, membro da equipe, explica que a descoberta das células-tronco quiescentes no intestino revela que a biologia das células-tronco é mais complexa do que os cientistas pensavam, não seguindo o modelo hierárquico de organização celular normalmente descrito nos livros-texto: "Na hierarquia celular intestinal, não há células acima das outras, então as duas populações estão em um equilíbrio contínuo para garantir o bom funcionamento do órgão".

Uma das implicações mais imediatas da descoberta dessa nova população de células é que a maioria dos medicamentos contra o câncer tem um efeito secundário sobre as células que estão se dividindo em nossos tecidos, mas não sobre essas células-tronco de reserva.

"Como as células-tronco quiescentes raramente se dividem, elas são resistentes a muitos tipos de quimioterapia e regeneram o tecido que este tratamento danifica," explicou Barriga, acrescentando que novas pesquisas poderão indicar caminhos para ativar essas células de forma a evitar os efeitos colaterais dos tratamentos quimioterápicos.

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