Infecção simultânea com dois vírus pode gerar vírus híbridos mais perigosos

As novas técnicas de imageamento permitiram observar os dois vírus formando uma partícula híbrida.
[Imagem: Joanne Haney et al. - 10.1038/s41564-022-01242-5]

Coinfecção viral

Um vírus é ruim, dois é pior. Mas os dois ao mesmo tempo pode ser o pior dos casos.

Foi o que descobriram Joanne Haney e colegas da Universidade de Glasgow (Escócia) ao fazerem um estudo inédito usando células de pulmões humanos.

Haney queria saber o que acontece quando dois vírus infectam as células ao mesmo tempo. A pesquisadora se concentrou no vírus influenza A, ou H1N1, que causa mais de cinco milhões de hospitalizações em todo o mundo a cada ano, e o vírus sincicial respiratório (VSR), a principal causa de infecção aguda do trato respiratório inferior em crianças menores de cinco anos de idade, podendo levar a quadros graves que requerem hospitalização.

As estimativas têm muita incerteza, mas apontam que as coinfecções por mais de um vírus representem entre 10 e 30% de todas as infecções virais respiratórias, mas sabe-se que elas são mais comuns em crianças. O impacto clínico das coinfecções virais também permanece incerto: Enquanto alguns estudos anteriores indicam que as coinfecções não alteram o desfecho da doença, outros relataram um aumento nos casos de pneumonia viral.

Para tentar esclarecer isto, a equipe usou as técnicas mais recentes - microscopia de super-resolução, tomografia crioeletrônica (Cryo-ET) e imagens de células vivas - para monitorar o que acontecia conforme ambos os vírus chegavam nas células humanas.

E o resultado é preocupante: Os dois vírus acabam criando vírus híbridos com capacidade de escapar do sistema imunológico de uma maneira que nenhum dos dois vírus sozinho consegue. As imagens mostraram claramente partículas de vírus híbridos com elementos-chave da influenza A e do VSR, incluindo informações genéticas de ambos os vírus.

Uma das partículas do vírus híbrido foi capaz de infectar novas células com influenza A usando o mecanismo de entrada do vírus VSR, permitindo-lhes escapar das respostas imunes naturais e desbloqueando o acesso a células que não possuem receptores para o vírus influenza A.

Vírus híbridos

A descoberta da equipe destaca o potencial de partículas de vírus híbridos serem criadas durante a coinfecção com influenza A e VSR, que são conhecidos por circularem na comunidade ao mesmo tempo durante os meses de inverno, dizem os pesquisadores.

Contudo, como os estudos foram feitos em laboratório, ainda não se sabe se, durante uma infecção humana natural, há alguma probabilidade de uma célula se co-infectar e criar uma partícula de vírus híbrida.

Mas a equipe acredita que essas novas observações lançam luz sobre interações anteriormente desconhecidas entre vírus respiratórios - interações que podem ajudar a explicar por que alguns pacientes coinfectados com mais de um vírus sofrem consequências mais graves e exigem tratamentos mais complexos.

Eles também pretender testar os efeitos da coinfecção entre outros vírus.

"Esta foi uma descoberta inesperada, mas muito emocionante, que desafia o que sabemos sobre como as partículas virais são formadas dentro de uma célula. Nossos próximos passos serão descobrir se as partículas híbridas são formadas em pacientes com coinfecções e identificar quais combinações de vírus podem gerar partículas híbridas, embora nossa suposição de trabalho seja que apenas alguns vírus respiratórios formarão vírus híbridos," disse o professor Pablo Murcia, coordenador da equipe.