Cosméticos de alga e girassol beneficiam pele diabética

A diabetes gera um envelhecimento acelerado da pele.
[Imagem: chandlervid85/Freepik e YVC Biology Department]

Cosméticos para diabéticos

Decorrências pouco conhecidas do diabetes, que afeta 15,8 milhões de brasileiros, é que a doença afeta a pele e, por decorrência, a autoestima do paciente.

Pensando nisso, pesquisadoras da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto desenvolveram formulações cosméticas com extrato de semente de girassol e alga vermelha, que se mostraram capazes de controlar as alterações da derme decorrentes da condição.

O diabetes é caracterizado por altas taxas de açúcar no sangue devido à falta ou má manutenção do metabolismo da glicose. Entre outras consequências, a doença causa o aumento de produtos de glicação (AGE) - reação entre glicose e moléculas como proteínas, ácidos nucleicos e lipídios, envolvida com o processo de envelhecimento -, o que provoca danos nas fibras de colágeno da pele.

Para um melhor entendimento desse tipo de pele e como os cosméticos devem agir nela, a pesquisa foi dividida em duas fases: Caracterização da pele de quem tem diabetes e estudos clínicos com os extratos.

Características da pele diabética

A primeira parte da pesquisa consistiu em uma análise da pele de pessoas com diabetes, em comparação com pessoas saudáveis. "Neste trabalho, nosso objetivo era entender por que a pele do diabético é mais sensível, por que envelhece primeiro, por que as feridas demoram muito para cicatrizar. A ideia foi analisar as propriedades morfológicas da pele, por medidas instrumentais e clínicas, para melhorá-la usando alguns produtos específicos para diabete," contou a professora Patrícia Campos.

As análises mostraram que a derme diabética sofre maior perda transepidérmica de água, ou seja, a hidratação é prejudicada. "Há uma proteção natural chamada função barreira da pele, que está ligada com a sensibilidade. Se houver comprometimento dessa função pela alta perda transepidérmica de água, significa que há danos nessa barreira cutânea," explicou Patrícia. Alguns sinais podem ser a pele avermelhada, maior sensibilidade e coceira.

A pele de pessoas com diabete também possui menos firmeza, porque o colágeno é menos denso e apresenta uma estrutura desordenada na derme, o que resulta em uma textura mais flácida. "Esse conhecimento é importante porque, em termos de envelhecimento da pele, isso pode incomodar e prejudicar a qualidade de vida e bem-estar do paciente. E também para prevenir algumas doenças e cuidar de cicatrizes, porque a perda de água deixa a pele seca e mais suscetível a dermatite de contato [irritação]," disse a pesquisadora.

Formulações cosméticas para pele diabética

Levando em conta as diferenças da pele diabética e como essas características afetam a autoestima sobretudo das mulheres, a pesquisadora Verônica Moraes desenvolveu formulações cosméticas com extratos naturais para atender às necessidades específicas para o rosto de pessoas com diabete.

Os ativos aplicados, de alga vermelha e semente de girassol, foram escolhidos pelo seu efeito de antiglicação, embora nunca tivessem sido analisados na pele diabética antes.

Essa parte do estudo, além de ser importante para o bem-estar físico, impacta a forma como os pacientes se veem. "É sobre autoestima também. O rosto geralmente é mais visado. Com uma pele mais sensível é complicado achar produtos, entre outros, que sejam focados para esse tipo de pele," disse Verônica.

As voluntárias que usaram os extratos apresentaram diferenças significativas nas mudanças da pele decorrentes do processo de glicação. Com as técnicas de imagem foi possível identificar melhora nos padrões de colágeno e espessura da derme. A fórmula que continha apenas extrato de alga vermelha mostrou resultados mais promissores, como aumento da densidade dérmica.

Agora será necessário atrair o interesse da indústria de cosméticos, para que as formulações possam sair do laboratório e virar cosméticos disponíveis para a população.