25/10/2023

A função emocional dos sonhos não é a mesma em todos os lugares

Redação do Diário da Saúde

Emoções nos sonhos

Por que nós sonhamos?

Emergindo da neurofisiologia do nosso cérebro, sonhar é uma experiência complexa, com aspectos emocionais, culturais e espirituais, podendo assumir muitos tons e simular a realidade em vários graus. Como resultado, ainda não há uma resposta clara para a questão de por que sonhamos.

Para verificar o quanto há de cultural no sonhar, pesquisadores das universidades de Genebra (Suíça) e Toronto (Canadá) decidiram comparar populações das duas regiões (Europa e América do Norte) com grupos culturais muito diversos, duas comunidades de caçadores-coletores, uma na Tanzânia (povo Hadza) e outra na República Democrática do Congo (povo BaYaka).

Os resultados mostraram que os sonhos representam papéis muito diferentes para as diferentes sociedades, mostrando vínculos extremamente fortes entre o ambiente sociocultural e a função dos sonhos.

Mais especificamente, o estudo mostrou que as duas comunidades africanas produziram sonhos mais ameaçadores, mas também mais catárticos e de orientação social, do que os grupos europeu e norte-americano - a catarse é uma solução aliviadora ou purificadora após um evento fortemente emocional.

"Descobrimos que os sonhos dos BaYaka e dos Hadza são muito dinâmicos. Muitas vezes começam com uma situação de perigo, em que a vida está ameaçada, mas acabam por encenar um meio de lidar com essa ameaça, ao contrário dos cenários dos grupos ocidentais que observamos. Por outro lado, em populações clínicas - como pacientes que sofrem de pesadelos ou ansiedade social - os sonhos são intensos, mas não contêm uma resolução emocional catártica. Nestes últimos grupos, a função adaptativa do sonho parece ser deficiente," disse Lampros Perogamvros, membro da equipe.

A função emocional dos sonhos não é a mesma em todos os lugares
Outras pesquisas já demonstraram que é possível conversar com quem está dormindo e, mais especificamente, que é possível comunicar-se com as pessoas durante o sonho.
[Imagem: Nicolas Decat]

Funções sociais dos sonhos

Entre as respostas disponíveis aos indígenas diante de uma ameaça em seus sonhos, os pesquisadores constataram que eram muito frequentes aquelas ligadas ao apoio social. É o caso, por exemplo, quando um indígena relata um sonho em que é atropelado por um búfalo no meio do mato, apenas para ser resgatado por um membro de sua comunidade. Ou quando outro sonha que cai em um poço e um de seus amigos o ajuda. Esses sonhos contêm a sua própria resolução emocional.

Entre os BaYaka e os Hadza, os laços sociais são, por necessidade, muito fortes. Em comparação com as sociedades mais individualistas da Europa e da América do Norte, a vida cotidiana e a divisão do trabalho são tipicamente mais igualitárias. Parece que este tipo de ligação social e a confiança na comunidade significam que a melhor forma como processam o conteúdo emocional associado à ameaça nos seus sonhos é através das relações sociais que mantêm. Na verdade, esses relacionamentos são as ferramentas emocionais usadas para processar os desafios da vida.

Os pesquisadores sugerem, portanto, que existe uma ligação estreita entre a função dos sonhos e as normas e os valores sociais de cada sociedade.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Evidence for an emotional adaptive function of dreams: a cross-cultural study
Autores: David R. Samson, Alice Clerget, Noor Abbas, Jeffrey Senese, Mallika S. Sarma, Sheina Lew-Levy, Ibrahim A. Mabulla, Audax Z. P. Mabulla, Valchy Miegakanda, Francesca Borghese, Pauline Henckaerts, Sophie Schwartz, Virginie Sterpenich, Lee T. Gettler, Adam Boyette, Alyssa N. Crittenden, Lampros Perogamvros
Publicação: Nature Scientific Reports
Vol.: 13, Article number: 16530
DOI: 10.1038/s41598-023-43319-z
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