01/06/2021

Contar histórias reduz estresse de crianças hospitalizadas

Redação do Diário da Saúde
Contar histórias reduz estresse de crianças hospitalizadas
Curiosamente, já se comprovou que a contação de história tem excelentes efeitos para os idosos.[Imagem: S. Hermann - F. Richter /Pixabay]

Contação de histórias

O ato de contar histórias traz benefícios fisiológicos e emocionais mensuráveis para crianças que se encontram em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).

A descoberta foi feita por pesquisadores brasileiros em um estudo inédito sobre o tema, realizado por uma equipe da UFABC (Universidade Federal do ABC) e do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), em parceria com a Associação Viva e Deixe Viver (Viva).

"Até então, a evidência positiva do ato de se contar histórias era baseada em bom senso, em que a interação com a criança poderia distrair, entreter, aliviar um pouco o sofrimento. Mas faltava um embasamento científico sólido, principalmente no que tange a mecanismos fisiológicos subjacentes," justificou o Dr. Jorge Moll Neto, membro da equipe.

A Associação Viva e Deixe Viver já atua com contação de histórias em hospitais há 24 anos, levando para estes ambientes esta que é uma prática imemorial da humanidade: Lendas, religiões e valores sociais atravessaram milênios por meio da oralidade e da escrita.

"Durante a contação de histórias acontece algo que chamamos de 'transporte da narrativa', ou seja, a criança, por meio da fantasia, pode experimentar sensações e pensamentos que a transportam, momentaneamente, para outro mundo, outro lugar, diferente do quarto do hospital e, portanto, longe das condições aversivas de uma internação," detalhou o Dr. Guilherme Brockington, principal responsável pelo estudo.

Cortisol e ocitocina

Para medir os efeitos da contação de história nos pacientes pediátricos, a equipe levou em conta os processos psicológicos e biológicos que ocorrem antes, durante e depois de ouvir a história.

Participaram do experimento 81 crianças, com idades entre 2 e 7 anos e que apresentavam condições clínicas similares e problemas respiratórios como asma, bronquite e pneumonia: 41 delas participaram de um grupo no qual contadores de história voluntários da Associação Viva e deixe Viver liam histórias infantis durante 25 a 30 minutos, enquanto em um grupo controle, 40 crianças eram engajadas em perguntas de enigmas e adivinhações propostas pelos mesmos profissionais e durante o mesmo intervalo de tempo.

Para comparar os efeitos das duas intervenções, foram coletadas amostras de saliva de cada participante com o objetivo de analisar as oscilações de cortisol e ocitocina - substâncias relacionadas ao estresse e à empatia, respectivamente -, antes e depois de cada sessão.

Além disso, as crianças também realizaram um teste subjetivo sobre o nível de dor que estavam sentindo antes e depois de experimentarem as atividades, bem como realizavam uma tarefa de associação livre de palavras ao verem 7 cartas com ilustrações de elementos do contexto hospitalar (Enfermeira, Médica, Hospital, Remédio, Doente, Dor e Livro).

Efeitos claros da contação de história

Os desfechos foram positivos para os dois grupos, já que ambas intervenções reduziram o nível de cortisol e aumentaram a produção de ocitocina em todas as crianças analisadas, enquanto a sensação de dor e desconforto também foi amenizada, segundo a avaliação das próprias crianças.

A diferença significativa é que os resultados do grupo que participou da contação de histórias foram duas vezes melhores do que o grupo das adivinhações, o que levou os pesquisadores à conclusão de que este contraste só poderia se dar em função da atividade narrativa.

Os impactos emocionais da contação também foram revelados nos resultados do teste de associação livre de palavras, feito ao final de cada intervenção. As crianças do grupo que passou pela sessão de contação de histórias relataram muito mais emoções positivas do que o grupo controle, justamente para os estímulos referentes a Hospital, Enfermeira e Médica.

Apesar da pesquisa ter contado com o apoio de profissionais contadores de história, os autores afirmam que a contação é uma atividade que pode ser praticada de forma igualmente benéfica por pais e educadores, dando espaço para as crianças participarem da escolha e da interação com a história. Além da redução de ansiedade e estresse, a atividade possibilita estreitar laços entre a criança, o narrador e as outras pessoas presentes na prática.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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