Teoria da Mente
Novas pesquisas estão dando embasamento a uma teoria sobre a consciência que ainda permanecia controversa no meio científico.
Os novos dados experimentais mostram que a consciência deriva de um nível mais profundo, de atividades em menor escala do que os neurônios.
Na verdade, essas atividades ocorrem dentro dos próprios neurônios, mas não nos processos celulares normais ou nas conexões entre os neurônios, e sim em uma interação molecular onde as leis da física que operam são aquelas estabelecidas pela mecânica quântica.
Os resultados, que alguns especialistas classificaram de "históricos", foram publicados na revista científica Physics of Life Reviews.
Teoria quântica da consciência
Hoje é possível pode encontrar dezenas de livros que sustentam "teorias quânticas da mente", mas, no meio científico acadêmico, essa teoria permanece controversa.
A teoria é chamada Orch-OR, uma sigla para "orchestrated objective reduction", ou redução objetiva orquestrada.
Quem está se incumbindo de defender essa nova teoria da mente é ninguém menos do que Stuart Hameroff e Roger Penrose, este um dos mais renomados físicos da atualidade - os dois são os mesmos que lançaram a controversa teoria quântica da consciência, há mais de 20 anos.
Eles defendem que as "computações vibracionais quânticas" nos microtúbulos são "orquestradas" ("Orch") por entradas sinápticas e memórias armazenadas nos microtúbulos, e terminadas por "redução objetiva" ("OR").
A recente descoberta de vibrações quânticas em microtúbulos dentro dos neurônios do cérebro dá sustentação a esta teoria, de acordo com Hameroff e Penrose - microtúbulos são os principais componentes do esqueleto estrutural das células.
Para Hameroff e Penrose, a consciência surge de alguma coisa além das computações, alguma coisa que a ciência ainda não descobriu, eventualmente porque não admite a possibilidade de sua existência.
Os dois pesquisadores sugerem que os ritmos das ondas cerebrais normalmente gravados por exames de eletroencefalografia também derivam de vibrações dos microtúbulos de nível mais profundo, e que, de um ponto de vista prático, tratar as vibrações dos microtúbulos no cérebro poderia beneficiar pacientes com uma série de doenças mentais, neurológicas e cognitivas.
Mecânica quântica quente
A teoria "Orch-OR" foi muito criticada desde o seu lançamento com base no argumento de que o cérebro seria "quente, molhado, e barulhento" demais para sustentar processos quânticos aparentemente delicados.
No entanto, experimentos já comprovaram a coerência quântica "quente" na fotossíntese das plantas, no sistema de navegação no cérebro dos pássaros, no olfato humano e, mais recentemente, nos microtúbulos cerebrais.
A descoberta das vibrações quânticas de elevada temperatura nos microtúbulos dentro dos neurônios cerebrais foi feita pelo grupo do Dr. Anirban Bandyopadhyay, no Instituto Nacional de Ciências dos Materiais em Tsukuba (Japão).
Pesquisas da equipe do Dr. Roderick Eckenhoff, na Universidade da Pensilvânia, por sua vez, sugerem que a anestesia, que apaga seletivamente a consciência, mas mantém o funcionamento de atividades cerebrais não-conscientes, atua via microtúbulos nos neurônios do cérebro.
De resto, nenhum físico sustenta que a mecânica quântica só valha para sistemas inorgânicos, inertes e frios.
Origem da consciência
"A origem da consciência reflete o nosso lugar no universo, a natureza da nossa existência. Será que a consciência evoluiu de cálculos complexos entre os neurônios do cérebro, como a maioria dos cientistas afirma? Ou será que a consciência, em certo sentido, tem estado aqui o tempo todo, como as abordagens espirituais defendem?" questionam Hameroff e Penrose em seu atual artigo, que revisa todas as pesquisas recentes na área.
"Isso abre uma potencial Caixa de Pandora, mas a nossa teoria acomoda os dois pontos de vista, sugerindo que a consciência deriva das vibrações quânticas nos microtúbulos, proteínas poliméricas dentro dos neurônios do cérebro, que tanto governam as funções neuronal e sináptica, como conectam os processos cerebrais aos processos auto-organizados em escala mais fina, uma estrutura quântica 'proto-consciente' da realidade," concluem eles.
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