30/11/2022

Sentimentos atuais interferem nas memórias da nossa felicidade no passado

Redação do Diário da Saúde
Sentimentos atuais interferem nas memórias da nossa felicidade passada
Para se sentir mais feliz, fale sobre experiências, não sobre coisas.
[Imagem: Maike und Björn Bröskamp/Pixabay]

Memória e felicidade

Grande parte das pessoas passa a vida perseguindo a felicidade, um estado de contentamento que parece ser mais difícil de alcançar para alguns do que para outros.

Pesquisas em ciências psicológicas indicam que uma razão pela qual a felicidade pode parecer tão arisca é que nossos sentimentos atuais podem interferir nas memórias do nosso bem-estar passado.

"Pessoas felizes tendem a exagerar a melhora da sua satisfação com a vida ao longo do tempo, enquanto as pessoas infelizes tendem a exagerar a deterioração do seu nível de felicidade. Isso indica uma certa confusão entre sentir-se feliz e sentir-se melhor," explica o professor Alberto Prati (Universidade College de Londres, no Inglaterra), que fez este estudo em conjunto com sua colega Claudia Senik (Universidade de Sorbonne, na França).

Prati e Senik analisaram dados de quatro pesquisas longitudinais (análise das variações nas caraterísticas dos mesmos elementos ao longo de um longo período de tempo) para investigar como nossos sentimentos atuais influenciam nossas memórias de felicidade passada.

Sentimento presente influencia visão do passado

Para começar, eles analisaram as respostas de 11.056 participantes entre 2006 e 2016. A cada ano, os participantes relataram o quanto estavam satisfeitos com sua vida em uma escala de 1 a 10. Em 2016, os pesquisadores também pediram aos entrevistados que selecionassem um dentre nove gráficos de linha que melhor refletissem a trajetória de sua satisfação com a vida nos 10 anos anteriores.

As pessoas que relataram maior satisfação com a vida na atualidade mostraram-se mais propensas a selecionar um gráfico que ilustra a melhoria contínua. As pessoas com satisfação mediana mostraram-se mais propensas a selecionar um gráfico que ilustra uma ligeira melhora, e as pessoas que relataram menor satisfação com a vida atual foram mais propensas a selecionar um gráfico que ilustra quedas em seu bem-estar.

"As pessoas são capazes de lembrar como costumavam se sentir em relação à sua vida, mas também tendem a misturar essa memória com a maneira como se sentem atualmente," escreveram Prati e Senik.

Misturando felicidade com melhoria

Os pesquisadores foram mais a fundo acerca dessa tendência de misturar memória e sensação usando dados de 20.269 participantes no período de 1997 a 2009, com os entrevistados relatando sua satisfação com a vida atual em uma escala de 1 a 7, bem como se se sentiam mais, menos ou igualmente satisfeitos ao se lembrarem de como estavam no ano anterior.

Cerca de metade dos entrevistados lembrou com precisão sua satisfação com a vida atual em comparação com o relatório do ano anterior. Mas, como com os outros dados, lembranças imprecisas pareciam ser influenciadas pela satisfação atual.

Esses resultados também se mantiveram no nível agregado: Quando Prati e Senik analisaram 18.589 respostas trimestrais a uma pesquisa do Instituto Nacional de Estatística e Estudos Econômicos da França, eles descobriram que os participantes se lembravam, em média, de estarem menos felizes um ano atrás do que realmente relataram na pesquisa.

Os norte-americanos entrevistados pela pesquisa Gallup Poll Social Series, em 1971, 1976, 2001 e 2006, demonstraram a mesma tendência de subestimar sua felicidade passada, com as respostas médias de 4.000 participantes sugerindo que os norte-americanos se lembravam de serem menos felizes cinco anos atrás do que haviam relatado na época.

"Parece que sentir-se feliz hoje implica sentir-se melhor do que ontem," escreveram Prati e Senik. "Essa estrutura de recordação tem implicações para a memória motivada e o aprendizado e pode explicar por que as pessoas felizes são mais otimistas, percebem os riscos como menores e são mais abertas a novas experiências."

Checagem com artigo científico:

Artigo: Feeling Good Is Feeling Better
Autores: Alberto Prati, Claudia Senik
Publicação: Psychological Science
DOI: 10.1177/09567976221096158
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