05/04/2024

Pensamento positivo é válido, enganar a si mesmo não

Redação do Diário da Saúde
Pensamento desejoso é algo bem diferente de pensamento positivo
Cure a si mesmo pensando positivo. Mas mantenha os pés na realidade.
[Imagem: Jesus Solana/Wikimedia]

Pensamento positivo versus autoengano

Existe hoje toda uma psicologia dos pensamentos positivos, ou psicologia positiva, mas nem todo pensar positivo é igual.

Tipicamente, o pensamento positivo advogado por psicólogos e autores de autoajuda reconhece os desafios, mas concentra-se na possibilidade de se chegar a bons resultados, envolvendo acreditar na sua própria capacidade de conseguir algo e tomar medidas para que isso aconteça.

Mas também existe um "pensamento desejoso", que consiste em esperar por algum benefício sem qualquer base na realidade, como sonhar em ganhar na loteria mas nem sequer comprar um bilhete. Esses pensamentos desejosos pendem mais para o excesso de otimismo, a ilusão e até o autoengano.

Jan Engelmann e seus colegas da Universidade de Amsterdã, nos Países Baixos, constataram agora que quanto maior for a insegurança e a ansiedade gerada por uma situação, maior será a probabilidade de as pessoas se tornarem excessivamente otimistas - até ao ponto em que isso pode impedi-las de tomar medidas essenciais para lidar com a situação, ficando apenas torcendo para que as coisas magicamente deem certo.

"As pessoas não são puramente buscadoras da verdade - muitas crenças são influenciadas pelas emoções e motivadas pelo que é agradável ou reconfortante," comenta o professor Joel van der Weele, membro da equipe, destacando que os estudos anteriores sobre o assunto centraram-se somente nos resultados positivos, como ganhar na loteria. "Nós examinamos como os resultados positivos e negativos influenciam as crenças tendenciosas," acrescentou ele.

Ativando o pensamento desejoso

Compreender o autoengano e suas causas é difícil em situações do mundo real. Por isso os pesquisadores montaram um conjunto de experimentos com mais de 1.700 participantes, realizados em laboratório e online. Os participantes viam brevemente vários padrões, como conjuntos de listras com orientações diferentes ou pontos coloridos, e foram questionados sobre que tipo de padrão eles viam. Alguns desses padrões foram associados a um resultado negativo, para induzir ansiedade, seja um choque elétrico leve e não perigoso (no laboratório) ou uma perda de parte do dinheiro que lhes era prometido pela participação (online).

Consistentemente os participantes mostraram-se menos propensos a identificar corretamente os padrões associados aos resultados negativos (choque ou perda de dinheiro).

"Os participantes tendiam a ver um padrão alinhado com o que era mais desejável," interpreta Engelmann. "Pesquisas anteriores analisaram o pensamento positivo relacionado a resultados positivos e encontraram resultados mistos, com muitos estudos não encontrando efeito. Nosso estudo demonstra muito claramente que a emoção negativa da ansiedade em relação a um resultado leva a pensamentos desejosos."

Tornando as pessoas mais realistas

Os pesquisadores então testaram intervenções destinadas a tornar as pessoas mais realistas. O primeiro teste envolveu tornar os padrões mais fáceis de reconhecer. "A redução da incerteza acabou por reduzir o pensamento desejoso," afirmou Van der Weele.

A segunda intervenção consistiu em oferecer ganhos mais elevados para o reconhecimento correto de padrões. Esta intervenção teve pouco efeito, exceto quando os participantes conseguiram reunir mais evidências sobre o padrão exato que lhes foi mostrado. "Quando as pessoas tiveram mais tempo para recolher provas e foram mais bem recompensadas por uma resposta correta, tornaram-se mais realistas," resumiu Engelmann.

Finalmente, nos experimentos em que os resultados negativos foram substituídos por resultados positivos, os participantes não demonstraram nenhum pensamento desejoso. Segundo os pesquisadores, isso mostra que a redução das emoções negativas pode diminuir o otimismo exagerado e o autoengano.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Making the future too bright: How wishful thinking can point us in the wrong direction
Autores: Jan B. Engelmann, Maël Lebreton, Nahuel A. Salem-Garcia, Peter Schwardmann, Joël J. van der Weele
Publicação: American Economic Review
Vol.: 114, no. 4
DOI: 10.1257/aer.20191068
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