Legalmente Envenenado
Os consumidores estão constantemente expostos a centenas, senão milhares, de substâncias potencialmente tóxicas, substâncias que afetam o desenvolvimento e as funções cerebrais, o sistema imunológico, os órgãos reprodutores e o equilíbrio hormonal.
O alerta contundente é do Dr. Carl Cranor, da Universidade da Califórnia em Riverside, nos Estados Unidos.
Segundo o cientista, as crianças são as mais vulneráveis. Mas nenhuma lei de saúde pública exige testes para a maioria dos produtos químicos antes que eles sejam postos no mercado.
Cranor acaba de lançar um livro sobre o problema, chamado "Legalmente Envenenado: Como a Lei nos coloca em risco com os tóxicos", publicado pela editora da Universidade de Harvard, e ainda sem versão em português.
Experimentos nos cidadãos
Cranor questiona a atual estrutura de controle baseada no risco de danos pela exposição a substâncias tóxicas.
"Como a maioria das substâncias ficam sujeitas à 'regulação pós-mercado', a estrutura legal vigente resulta em experimentos involuntários nos cidadãos. Os corpos dos cidadãos são invadidos e trespassados por substâncias comerciais, o que é, sem nenhuma dúvida, uma ofensa moral," diz ele.
O pesquisador cita que as autoridades de saúde dos Estados Unidos (Centers for Disease Control) identificaram mais de 200 substâncias tóxicas nos corpos dos norte-americanos médios.
Mas esse número ainda seria muito baixo porque ainda não foram desenvolvidos protocolos para identificar com segurança muitas outras substâncias.
"A lista só vai crescer com o tempo", diz Cranor.
"Estamos todos contaminados"
Com exceção dos produtos farmacêuticos e pesticidas, o sistema jurídico dos EUA e da maioria dos demais países permite que a maior parte das substâncias seja comercializada sem ensaios de toxicidade, sem saber se elas causam câncer, defeitos congênitos, efeitos sobre o desenvolvimento ou problemas reprodutivos.
Segundo Cranor, das mais de 50.000 substâncias introduzidas no mercado desde 1979, a comercialização de cerca de 85% delas foi autorizada sem qualquer dado sobre seus efeitos na saúde humana.
Para o pesquisador, a contaminação química já é tão prevalente que será muito difícil fazer estudos em seres humanos no futuro porque não haverá grupos de controle não contaminados, contra os quais se possa comparar as pessoas que estiverem contaminadas.
"Estamos todos contaminados. É uma questão de mais ou menos contaminação. Assim, está se tornando cada vez mais difícil para a ciência detectar alguns destes efeitos em seres humanos," afirma.
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