26/05/2022

Identificada substância que reverte câncer de mama mais agressivo

Com informações da Agência Fapesp
Identificada substância que reverte câncer de mama mais agressivo
Katlin Massirer e Felipe Ciamponi, pesquisadores da Unicamp que participaram do estudo internacional.
[Imagem: CQMED]

Fármaco contra triplo-negativo

Pesquisadores brasileiros identificaram uma substância com potencial para combater tumores de mama triplo negativo, o subtipo de câncer de mama mais agressivo, com prognóstico menos promissor e com poucas terapias eficazes.

Por meio de experimentos de laboratório e análises de bioinformática, eles constataram que a substância, denominada MS023, leva a célula tumoral à autodestruição acionando um dos sistemas celulares de defesa, o sistema interferon.

"Conhecer as etapas que estão sendo afetadas nas células durante o câncer é fundamental para que tanto a comunidade científica como as empresas farmacêuticas consigam acelerar as estratégias para o desenvolvimento de novos medicamentos," afirmou Katlin Massirer, pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que fez a descoberta juntamente com pesquisadores do Canadá, China e Estados Unidos.

Primeiro, os pesquisadores caracterizaram a proteína metiltransferase 1 (PRMT1) como um bom alvo terapêutico, encontraram uma molécula antitumoral e elucidaram o seu modo de ação.

Em seguida, eles testaram in vitro 36 compostos que se ligam à PRMT1, considerada reguladora da proliferação de células no câncer de mama triplo negativo. Dessas, 15 moléculas tiveram um bom desempenho na redução do tumor, sendo que a molécula MS023 foi a que apresentou o melhor resultado.

Testes e mecanismo

Animais de laboratório tratados com a MS023 apresentaram desaceleração do avanço tumoral, enquanto em organoides, estruturas celulares mais complexas de laboratório, derivadas de células tumorais de pacientes portadoras do câncer, os tumores regrediram.

Restou então elucidar o mecanismo de ação da substância.

"Em pessoas saudáveis, a PRMT1 faz com que trechos de DNA sejam lidos ou sejam protegidos de acordo com as necessidades do corpo, em sintonia para a produção de proteínas importantes nas células", explica Katlin. "Entretanto, na presença da MS023, a leitura de algumas regiões do genoma ativa o sistema interferon em decorrência da diminuição de PRMT1. A ativação dessa defesa pode levar a célula doente à autodestruição," completou Felipe Ciamponi, coautor do trabalho.

A descoberta foi publicada em regime de "ciência aberta", o que significa que qualquer outro grupo de pesquisa ou empresa pode continuar os estudos a partir deste ponto para, depois dos testes de segurança e eficácia in vivo, eventualmente transformar o fármaco em um medicamento.

Câncer de mama triplo-negativo

O câncer de mama triplo negativo representa entre 15% e 20% dos casos e é responsável por 25% das mortes. A taxa de recidiva é considerada alta (mais de 30%) e a sobrevida é muito baixa após uma recorrência metastática.

Esse tipo de tumor é caracterizado pela ausência - na membrana da célula tumoral - de receptores de estrogênio, de progesterona e de fator de crescimento epidérmico humano 2 (HER2), proteínas que classificam os outros subtipos de câncer de mama (daí o nome triplo-negativo, referindo-se a estas três substâncias).

A identificação do tipo de receptor presente na célula tumoral é fundamental para a definição do tratamento - que é mais limitado no caso do câncer de mama triplo negativo.

Checagem com artigo científico:

Artigo: PRMT inhibition induces a viral mimicry response in triple-negative breast cancer
Autores: Qin Wu, David Y. Nie, Wail Ba-alawi, YiShuai Ji, ZiWen Zhang, Jennifer Cruickshank, Jillian Haight, Felipe E. Ciamponi, Jocelyn Chen, Shili Duan, Yudao Shen, Jing Liu, Sajid A. Marhon, Parinaz Mehdipour, Magdalena M. Szewczyk, Nergiz Dogan-Artun, WenJun Chen, Lan Xin Zhang, Genevieve Deblois, Panagiotis Prinos, Katlin B. Massirer, Dalia Barsyte-Lovejoy, Jian Jin, Daniel D. De Carvalho, Benjamin Haibe-Kains, XiaoJia Wang, David W. Cescon, Mathieu Lupien, Cheryl H. Arrowsmith
Publicação: Nature Chemical Biology
DOI: 10.1038/s41589-022-01024-4
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