02/06/2009

Herança não-genética pode ser mais frequente que herança pelo DNA

Kevin Stacey
Herança epigenética pode ser mais frequente que herança pelo DNA
Por anos, os genes têm sido considerados como a única forma pela qual as características biológicas podem ser passada de uma geração a outra. Mas essa época está chegando ao fim.
[Imagem: Diário da Saúde/Emijrp]

Herança epigenética

Por anos, os genes têm sido considerados como a única forma pela qual as características biológicas podem ser passada de uma geração a outra.

Mas essa época está chegando ao fim.

Cada vez mais, os biólogos estão descobrindo que variações não-genéticas adquiridas durante a vida de um organismo podem algumas vezes serem passadas para os descendentes - um fenômeno conhecido como herança epigenética.

100 razões para o fim da era do DNA

Um artigo científico que será publicado no exemplar de Julho do periódico The Quarterly Review of Biology lista mais de 100 casos bem documentados de heranças epigenéticas entre gerações de organismos. A pesquisa defende que a herança que não utiliza o DNA acontece muito mais frequentemente do que os cientistas acreditavam até agora.

Os biólogos suspeitam há anos que alguma forma de herança epigenética ocorre em nível celular. Os diferentes tipos de células em nossos corpos fornecem um exemplo do fenômeno. Células da pele e células cerebrais têm diferentes formas e funções, apesar de terem exatamente o mesmo DNA. Logo, deve haver outros mecanismos, que não o DNA, que garantam que as células da pele e do cérebro continuem sendo células da pele e do cérebro quando elas se dividem.

Herança não-genética entre organismos

Só recentemente, entretanto, os pesquisadores começaram a descobrir evidências moleculares de herança não-genética entre organismos, assim como entre as células. A principal questão agora é: Quão frequentemente isso ocorre?

"A análise desses dados mostra que a herança epigenética está por todo lado," afirmam a pesquisadoras Eva Jablonka e Gal Raz. A pesquisa das duas destaca heranças epigenéticas herdadas em bactérias, protistas, fundos, plantas e animais.

Estas descobertas "representam o ponto de um enorme icebergue," diz o estudo.

Ligar e desligar os genes

Existem quatro mecanismos conhecidos para a herança epigenética. Segundo as pesquisadoras, entre eles o mais conhecido é a metilação do DNA. Metilas são um pequeno grupo químico que se liga em determinadas áreas da cadeia do DNA. Elas servem como uma espécie de chave que ativa e desativa os genes.

Ao ligar e desligar os genes, as metilas têm um profundo impacto sobre a forma e a função das células e organismos, sem alterar o DNA correspondente. Se o padrão normal das metilas é alterado - por um agente químico, por exemplo, ao qual o organismo tenha sido exposto - o novo padrão pode ser passado para as gerações futuras.

O resultado, como verificado em experiências com ratos, pode ser dramático e perdurar por gerações, apesar do DNA continuar intacto.

Lamarck revisitado

Novas evidências para a herança epigenética têm implicações profundas para o estudo da evolução, dizem as pesquisadoras.

"Incorporar a herança epigenética na teoria evolucionária amplia o escopo do pensamento evolucionário e leva a noções de hereditariedade e evolução que incorporam o desenvolvimento," escrevem elas.

Este é o principal argumento de um naturalista do século XVIII, Jean Baptiste Lamarck. Lamarck, cujos escritos sobre a evolução são anteriores aos de Darwin, acreditava que a evolução era dirigida em parte pela herança de características adquiridas durante a vida.

Seu exemplo clássico é a girafa. Os ancestrais das girafas, argumentava Lamarck, forçaram seus pescoços para alcançar folhas mais altas nas árvores. Ao fazer esse esforço, seus pescoços tornaram-se ligeiramente maiores - uma característica que foi passada para seus descendentes. Geração após geração a espécie herdou pescoços ligeiramente maiores, e o resultado são as girafas que conhecemos hoje.

Com o advento da genética Mendeliano e a posterior descoberta do DNA, as ideias de Lamarck foram abandonadas inteiramente. As pesquisas em epigenética, embora não tenham revelado nada tão dramático quanto as girafas de Lamarck, sugere que as características adquiridas podem ser herdadas e que, no fim das contas, Lamarck não estava de todo errado.

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