Legislação falha
Para os hipertensos que precisam aferir a pressão arterial e utilizam aparelhos digitais de punho, um alerta: um teste realizado na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp detectou falhas nos valores obtidos de uma determinada marca, na aferição da pressão.
A enfermeira Priscila Rangel Dordetto Chaves descreveu os resultados em sua dissertação de mestrado apresentada na FCM, sob orientação do professor José Luiz Tatagiba Lamas.
"Em vários países da Europa, os aparelhos digitais, sejam eles de punho ou de braço, precisam passar por testes de validação para garantir a sua confiabilidade. Lá, a prática é obrigatória. No entanto, no Brasil, não existe nenhuma regulamentação neste sentido, ficando a sua comercialização desobrigada desta exigência e as pessoas, vulneráveis aos erros na aferição", explica.
Aferição e calibração
O problema, segundo Priscila, é ainda maior na medida que há desconhecimento da prática por parte de alguns profissionais de saúde.
Em uma avaliação preliminar, a enfermeira entrevistou em torno de 200 indivíduos, entre médicos, enfermeiros, técnicos, auxiliares de enfermagem, docentes de graduação e de curso técnico na enfermagem e, também, pacientes que utilizavam o equipamento.
"Em sua grande maioria, houve o desconhecimento de como proceder a validação do aparelho. Eles sequer sabiam que somente o teste de validação é capaz de medir a confiabilidade nas aferições", destaca.
Os aparelhos mecânicos, muito usados no passado, passavam invariavelmente por calibrações semestrais ou anuais, dependendo do modelo. No entanto, cada vez mais aumenta o número de profissionais - e mesmo de pacientes - que adotam o método de aferição automático.
Por isso, a preocupação ainda maior de se ter confiabilidade nas medidas feitas por esses aparelhos. "O perigo é que muitos pacientes podem diminuir a medicação ou até interromper o tratamento, acreditando não ter necessidade, baseados nos resultados do aparelho", alerta. Tanto os aparelhos digitais de braço, que são mais usados em centros de saúde, serviços de urgência, como aqueles utilizados apenas em UTIs e centros cirúrgicos, devem passar por testes de validação.
Confiabilidade dos medidores de pressão
A pesquisa utilizou um dos três protocolos de validação existentes no mundo - o protocolo internacional preconizado pela Sociedade Europeia de Hipertensão.
Para a enfermeira, testar a confiabilidade dos aparelhos é essencial, mesmo que o procedimento seja complexo e exija tempo, material e seriedade para ser feito. No estudo proposto, foram 158 voluntários selecionados, mas apenas 33 entraram para a amostragem final.
No total, formaram-se três grupos de onze pessoas cada, sendo incluídas no estudo conforme valores da pressão nos intervalos, baixo, médio e alto. A pressão dos voluntários foi medida em média 10 vezes, totalizando em torno de 330 medições.
O que chamou a atenção da enfermeira foi justamente ocorrer o maior grau de variabilidade do aparelho na medida da pressão do grupo de intervalo alto, que são as pessoas que mais procuram adquirir este tipo de aparelho. "O número de falhas, curiosamente, foi menor no grupo de intervalo baixo e médio, ou seja, naqueles que mantinham a pressão normal", esclarece.
A enfermeira destaca que a maioria dos certificados de validação dos aparelhos digitais é feita por grupos de pesquisadores por todo o mundo. Para ela, o fabricante não tem como realizar o procedimento antes de colocar o produto no mercado, pois se trata de uma prática a ser feita pelos profissionais de saúde.
Neste sentido, a proposta futura dos pesquisadores envolvidos com a questão da hipertensão na Unicamp é a criação de um laboratório, cujo objetivo será minimizar o problema existente e colaborar para que a medida da pressão arterial, utilizando um aparelho digital, bem como os demais, seja confiável e correta.
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