10/04/2012

Cientistas alertam para excesso de diagnósticos de hiperatividade

Redação do Diário da Saúde
Cientistas alertam para excesso de diagnósticos de hiperatividade
O gênero do profissional de saúde influencia nos resultados: terapeutas mulheres dão mais diagnósticos de hiperatividade para meninos, e terapeutas homens dão mais diagnósticos de hiperatividade para meninas.
[Imagem: RUB-Pressestelle/Babette Sponheuer]

Hiperdiagnóstico

O que especialistas e o público já suspeitavam há muito tempo agora ganhou o suporte de um conjunto representativo de dados médicos.

O chamado Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH, ou ADHD na sigla em inglês), está sofrendo de diagnóstico excessivo.

O estudo mostrou que psiquiatras e psicoterapeutas têm dado diagnósticos de hiperatividade baseados em heurística, em regras pouco claras, em vez de aderirem a critérios reconhecidos.

Segundo Silvia Schneider e Jürgen Margraf (Universidade de Ruhr) e Katrin Bruchmüller (Universidade de Basel), apenas uma em cada quatro crianças e adolescentes diagnosticados com hiperatividade realmente apresentam um comportamento que caracteriza a condição.

"Doença" de menino e preconceito do terapeuta

Os garotos, em particular, têm sido muito mais diagnosticados com TDAH com que as meninas - os pesquisadores identificaram vários casos em que um menino e uma menina tinham exatamente os mesmos comportamentos típicos nas avaliações rigorosas, mas o menino recebeu um diagnóstico de hiperatividade, e a menina não.

Segundo os pesquisadores, os psiquiatras estão seguindo "protótipos" de comportamento hiperativo.

E esse protótipo é masculino e com sintomas como agitação motora, falta de concentração e impulsividade.

Um garoto com esses sintomas tem alta probabilidade de ser diagnosticado com hiperatividade mesmo quando não preenche o conjunto completo de regras de diagnóstico - mas as meninas não.

O gênero do profissional de saúde também influencia nos resultados: terapeutas mulheres dão mais diagnósticos de hiperatividade para meninos, e terapeutas homens dão mais diagnósticos de hiperatividade para meninas.

Doenças inventadas

Segundo os pesquisadores, os índices de diagnóstico de hiperatividade estão apresentando "tendências inflacionárias" nas últimas duas décadas - na Alemanha, onde o estudo foi realizado, o número de crianças avaliadas com a condição subiu 381% entre 1989 e 2001.

Também no Brasil, estudos indicam que a medicalização de crianças está transformando modo de ser em doença.

A hiperatividade é sempre citada nos estudos que levantam o problema da medicalização, a taxação de comportamentos como doenças.

Os problemas medicalizados já consomem mais recursos do que o câncer nos sistemas de saúde.

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