09/02/2015

Descoberta sobre serotonina e paciência questiona função dos antidepressivos

Redação do Diário da Saúde

Serotonina e paciência

Uma descoberta envolvendo a paciência, o sistema de recompensas do cérebro e o hormônio serotonina pode mudar a forma como os médicos e cientistas encaram condições como a depressão.

Uma equipe internacional de pesquisadores afirma ter encontrado um nexo de causalidade entre a ativação de neurônios de serotonina e a quantidade de tempo que camundongos de laboratório permanecem dispostos a esperar, rejeitando uma alegada ligação entre o aumento da ativação dos neurônios de serotonina e o sistema de recompensa.

A serotonina é uma substância química neuromoduladora que é alvo de medicamentos antidepressivos, como o Prozac, que são amplamente utilizados para tratar a depressão e outros distúrbios, como a dor crônica. A serotonina é normalmente liberada por um pequeno conjunto de células em uma área do cérebro chamada núcleos da rafe.

No entanto, o que faz com que esses neurônios tornem-se naturalmente ativos e liberem serotonina, e como isso afeta a função cerebral, são perguntas que os cientistas ainda não sabem responder.

Paciência e sistema de recompensa

Para estudar o papel da serotonina na paciência - em contraposição ao "Quero agora" típico do sistema de recompensa - os pesquisadores usaram uma tarefa em que os animais de laboratório tinham que esperar por uma recompensa que chegava em momentos aleatórios.

Durante alguns dos testes, eles estimularam os neurônios de serotonina dos animais usando uma técnica chamada optogenética. "Tornamos os neurônios de serotonina sensíveis à luz, de forma que, quando são iluminados, eles são ativados e liberam serotonina no cérebro," explica a Dra. Madalena Fonseca, membro da equipe do Centro Champalimaud para o Desconhecido, um programa internacional que se esforça para desvendar a base neural do comportamento humano.

A equipe observou que, quando os neurônios de serotonina são ativados, os camundongos tornam-se mais pacientes - quanto mais neurônios de serotonina são ativados, mais tempo os camundongos se dispõem a esperar.

Os pesquisadores ainda testaram se o aumento na capacidade de esperar seria um efeito colateral de outras funções da serotonina, mas os resultados desses experimentos foram negativos, descartando que o aumento da paciência seja uma consequência da recompensa.

A história é mais complicada

Segundo a equipe, este estudo tem grandes implicações para a compreensão do envolvimento da serotonina na depressão e outras doenças.

"Como se acredita que os antidepressivos aumentem a serotonina, as pessoas assumem que mais neurônios de serotonina disparando trarão uma sensação de prazer. Nossos resultados mostram que a história não é tão simples. O fato de que a serotonina afeta a paciência nos dá uma pista importante que esperamos venha nos ajudar a desvendar o mistério desse hormônio," disse Zachary Mainen, coautor do estudo.

Outros pesquisadores já haviam encontrado indícios de que tratamentos de depressão focando a serotonina tinham poucas chances de serem eficazes, algo com implicação direta também para doenças como o Mal de Parkinson.

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