Um levantamento realizado em 55 centros espíritas da cidade de São Paulo aponta que, juntos, os atendimentos espirituais chegam a cerca de 15 mil por semana (60 mil ao mês).
"Este número é muito superior ao atendimento mensal de hospitais como a Santa Casa, que atende cerca de 30 mil pessoas, ou do Hospital das Clínicas, com cerca de 20 mil atendimentos", destaca o médico psiquiatra Homero Pinto Vallada Filho, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP.
A média relatada de atendimentos semanais em cada instituição foi de 261 pessoas.
"Sabemos, por meio de vários estudos, que a abordagem do tema religiosidade ou espiritualidade exerce um efeito bastante positivo na saúde de muitos pacientes. Por isso, podemos considerar a terapia complementar religiosa ou espiritual como uma aliada dos serviços de saúde", revela, lembrando que, geralmente, o paciente não tem o hábito de falar sobre suas crenças religiosas e muito menos de contar que realiza tratamentos espirituais em centros espíritas.
Vallada Filho foi o orientador do estudo, que foi realizado pela médica Alessandra Lamas Granero Lucchetti.
Cirurgias espirituais
A ideia foi mostrar a dimensão do trabalho realizado pelos centros espíritas, o grande número de atendimentos prestados e os diferentes serviços oferecidos.
Observou-se também que apenas uma pequena minoria dessas instituições realiza cirurgias espirituais, sendo todas sem cortes.
Em seu trabalho, a pesquisadora descreve passo a passo uma terapia complementar espiritual para pacientes com depressão realizada na Federação Espírita do Estado de São Paulo.
Alessandra realizou um levantamento inicial de todos os centros espíritas da capital paulista que possuíam site na internet contendo endereço de contato. A médica chegou ao número de 504 instituições.
Kardecistas
Neste levantamento, foram pesquisados apenas centros espíritas "kardecistas", que seguem as ideias do pedagogo francês Hippolyte Leon Denizad Rivail, mais conhecido pelo pseudônimo de Allan Kardec - uma espécie de ortodoxia do espiritismo.
Entre os resultados, foi observado que a maioria são centros já estabelecidos e que têm mais de 25 anos de existência, sendo o mais velho funcionando há 94 anos e o mais jovem com 2 anos.
Em quase todos, os usuários são orientados a continuar com o tratamento médico convencional, caso estejam fazendo algum, ou mesmo com as medicações indicadas pelos médicos.
Os principais motivos para a procura pelo centro foram os problemas de saúde: depressão (45,1%), câncer (43,1%) e doenças em geral (33,3%). Também foram relatados dependência química, abuso de substâncias, problemas de relacionamento. Entre os tratamentos realizados, a prática mais presente foi a desobsessão (92,7%) e a menos frequente foi a cirurgia espiritual, (5,5%), sendo todas sem uso de cortes.
Mediunidade
Quanto à diferenciação entre experiência espiritual e doença mental, realizada com base em nove critérios propostos pelos pesquisadores Alexander Moreira Almeida e Adair de Menezes Júnior, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), a média de acertos foi de 12,4 entre 18 acertos possíveis. Apenas quatro entrevistados (8,3%) tiveram 100% de acertos.
Entre esses critérios, estão a integridade do psiquismo; o fato de a mediunidade não trazer prejuízos em nenhuma área da vida; a existência da autocrítica; e a mediunidade sendo vivenciada dentro de uma religião e cultura específicos, entre outros.
"Esse levantamento procurou descrever as atividades realizadas nos centros espíritas e salientar não só a grande importância social desempenhada por eles, mas também a grande contribuição ao sistema de saúde como coadjuvante na promoção de saúde, algo que a grande maioria das pessoas desconhece", finaliza.
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