01/09/2009 Resistência a antibióticos: quando 1 + 1 não são 2Ana Godinho
Bactérias Escherichia coli. [Imagem: Isabel Gordo]
Combatendo a resistência com outra resistência A evolução de multirresistências a antibióticos é sem dúvida um problema global e de difícil solução. Agora, Isabel Gordo, do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Portugal, descobriu que o efeito nefasto de uma resistência pode ser suprimido pela aquisição de uma nova resistência a um outro antibiótico. Este trabalho tem implicações diretas na evolução de bactérias multirresistentes e na escolha do tipo de antibióticos a ser administrados. Uma outra pesquisa recente aponta também para o desenvolvimento de antibióticos que não causa resistência bacteriana. Escolhendo a rota da evolução Uma das formas de uma bactéria se tornar resistente a antibióticos é através da aquisição de mutações no seu genoma. No entanto, esta resistência tem efeitos opostos: é crucial para a sobrevivência das bactérias na presença de antibióticos, mas tem um custo na sua ausência. A taxa de crescimento de bactérias resistentes diminui neste último caso. Embora não se possa impedir que as bactérias evoluam, é possível escolher o tipo de pressão seletiva (antibióticos) a aplicar e, desta forma, alterar o curso da sua evolução a nosso favor. Este estudo destaca a importância de conhecer os custos das múltiplas resistências de forma a encontrar as melhores combinações de antibióticos (as que imponham um maior custo para as bactérias). Interações genéticas Em colaboração com outras duas equipes de investigação do IGC, a equipe de Isabel Gordo estudou bactérias (Escherichia coli) com mutações que lhes conferem resistência a antibióticos comumente usados (por exemplo os mesmos usados no tratamento de tuberculose). Ao estudar todas as combinações possíveis de resistências os investigadores conseguiram medir o efeito das interações genéticas entre os genes mutados que conferem resistência - um fenômeno chamado epistasia. Este fenômeno é considerado como um dos problemas-chave no futuro da investigação na área da Biologia. Resistência mais do que dobra Isabel descreve as conclusões a que chegaram: "Para nossa surpresa, quando essas bactérias duplamente resistentes crescem num ambiente sem antibióticos, as suas taxas de sobrevivência são superiores ao esperado, significando um baixo custo da múltipla resistência". Mais surpreendente foi a descoberta de que bactérias resistentes a dois antibióticos possam ter vantagem relativamente a bactérias resistentes a uma única droga (12% das combinações testadas). Este é o pior cenário do ponto de vista dos hospedeiros (entre os quais a nossa espécie) e o melhor para a bactéria. Resistências múltiplas Este estudo demonstra pela primeira vez a importância de interações entre genes que determinam a resistência a antibióticos. Do ponto de vista da saúde pública este estudo pode também explicar a prevalência de resistências múltiplas noutro tipo de bactérias que estão na origem de doenças tais como a tuberculose (Mycobacterium tuberculosis), cujo tratamento envolve o uso de drogas semelhantes às utilizadas neste estudo. De acordo com Isabel Gordo: "Este trabalho demonstra a importância de conhecer a história clínica do doente no que diz respeito aos antibióticos administrados previamente, bem como as mutações associadas às bactérias que causam a infecção, de forma a poder escolher o tratamento mais apropriado e obter um resultado clínico mais favorável." Acrescenta ainda "De um ponto de vista mais geral, o estudo revela a complexidade inerente à informação contida nos genomas". Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br URL: https://diariodasaude.com.br/print.php?article=resistencia-antibioticos-quando-1-1-nao-2 A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos. |