02/12/2009

Religião e medicina: Algumas vezes, uma receita com alto poder curativo

Redação do Diário da Saúde

Religião: ponte ou barreira?

Os pediatras que tratam de crianças com câncer acham que a religião é uma ponte ou uma barreira em seu trabalho? Ou eles acreditam que são as duas coisas, dependendo se seus pacientes estão se recuperando ou piorando?

Para examinar essas questões, pesquisadores da Universidade de Brandeis, nos Estados Unidos, fizeram uma extensa pesquisa com oncologistas pediátricos. Os resultados foram publicados no exemplar deste mês da revista científica Social Problems.

Os autores descobriram que os médicos tendem a ver a religião e a espiritualidade de forma pragmática, considerando-as como recursos nas tomadas de decisão das famílias nas situações em que a morte se aproxima, e como barreiras quando elas conflitam com as decisões médicas.

A diferença de lidar com a saúde e com a morte

Segundo Wendy Cadge, coautora do estudo, os pediatras, mais do que os oncologistas pediátricos, afirmam que a religião está fora dos limites da sua profissão, primariamente porque eles lidam com crianças saudáveis.

Os pediatras oncologistas, por seu lado, afirmam que a religião pode ajudar a lidar com crianças que estão morrendo ou com resultados desfavoráveis nos procedimentos médicos.

"Os médicos vêm a religião e a espiritualidade como uma barreira quando elas impedem as recomendações médicas, e como uma ponte quando elas ajudam as famílias a responder questões que a medicina não pode responder," escrevem os autores.

Quando não há mais o que fazer

Entre todos os pesquisados, apenas um médico relatou perguntar de forma regular e diretamente aos pacientes e às suas famílias sobre a religião e a espiritualidade.

Os demais pediatras que lidam com o câncer infantil afirmam que conversas diretas sobre religião são ou muito pessoais ou irrelevantes, traçando uma fronteira clara entre o público e o privado que coloca a religião no lado privado da linha.

Ainda assim, a religião e a espiritualidade quase sempre surgem quando os tratamentos médicos não conseguem curar o paciente. Uma parte importante dos médicos acredita que as crenças religiosas e espirituais ajudam os pacientes e suas famílias na transição dos cuidados curativos para os cuidados paliativos - aqueles cuidados adotados quando não há mais esperança de sobrevivência do paciente.

A fé ajuda médicos e pacientes

"Francamente, aqueles que têm convicções religiosas - que creem - que há algo além deste mundo, eles parecem lidar melhor, mesmo os pacientes ficam um pouco melhores. E é mais fácil falar sobre a morte com essas famílias e com esses pacientes. Há uma crença subjacente de que há algo além deste mundo que é basicamente um mundo melhor. É muito mais fácil discutir de forma construtiva com famílias que acreditam nisso do que com aquelas que não acreditam," disse um dos médicos que participou da pesquisa.

"O estudo demonstrou que os médicos não querem que as crenças religiosas sejam empecilhos aos cuidados médicos e aos seus conhecimentos, e eles ficam frustrados quando essas crenças interferem com as decisões médicas," disse Cadge.

"Mas, no fim do dia, quando alguém amado está morrendo e todas os recursos médicos já se esgotaram, os médicos frequentemente acolhem bem as crenças religiosas da família porque elas ajudam a essas famílias responderem a questões - como 'por que aconteceu conosco?' - para as quais a medicina não tem resposta," concluem os pesquisadores.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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