29/11/2024 Paradoxo no Parkinson: Quando mais dopamina, mais tremorRedação do Diário da Saúde
A descoberta questiona o saber convencional, revelando que a preservação da dopamina em certas regiões cerebrais pode, na verdade, contribuir para os sintomas de tremor.[Imagem: Marcelo D. Mendonça et al. - 10.1038/s41531-024-00818-8]
Paradoxo da dopamina Cientistas da Fundação Champalimaud (Portugal) conseguiram finalmente esclarecer a intrigante relação entre a dopamina e o tremor em repouso na doença de Parkinson. E a descoberta questiona o saber convencional, revelando que a preservação da dopamina em certas regiões cerebrais pode, na verdade, contribuir para os sintomas de tremor. A doença de Parkinson é uma desordem neurológica progressiva conhecida pelos seus sintomas motores característicos: tremor, rigidez e lentidão de movimentos. Entre estes, o tremor em repouso - um tremor que ocorre quando os músculos estão relaxados - é um dos sintomas mais reconhecíveis, mas também um dos menos compreendidos. Já a dopamina, outrora conhecida como "hormônio da felicidade", tem-se mais recentemente se revelado como um hormônio com personalidade yin-yang, agindo no prazer e na dor, tanto que, mais recentemente, os cientistas começaram a mudar até sua denominação, afirmando que a dopamina não é o hormônio do bem-estar, é o hormônio dos eventos importantes. Está bem estabelecido que a perturbação da regulação do movimento na doença de Parkinson é determinada pela diminuição dos níveis de dopamina em regiões do cérebro como o estriado, onde se encontram os núcleos putamen e caudado. No entanto, enquanto alguns doentes apresentam um alívio significativo do tremor com terapias de reposição de dopamina, como a L-DOPA, outros mostram pouca ou nenhuma melhoria, ou até um agravamento dos sintomas. "O tremor é um sintoma comum e muitas vezes debilitante para os doentes com Parkinson, mas sempre foi um enigma," disse o pesquisador Marcelo Mendonça. "Sabemos que a dopamina está envolvida, mas a forma como afeta especificamente o tremor não é tão direta como acontece nos outros sintomas motores". Só recentemente se descobriu que a dopamina controla o movimento, e essa ação da dopamina sobre o movimento ajuda a compreender a doença de Parkinson. [Imagem: Maite Azcorra/Zachary Gaertner/Northwestern University] Dopamina e Parkinson A hipótese mais aceita entre os cientistas indicava que menos dopamina deveria corresponder a sintomas mais graves. No entanto, no caso do tremor em repouso, os pesquisadores descobriram precisamente o contrário. "Paradoxalmente, descobrimos que os doentes com tremor têm uma perda menor de dopamina no núcleo caudado, uma parte do cérebro importante para o controle do movimento e a cognição," explicou Mendonça. "Isto desafia o nosso entendimento tradicional de como a perda de dopamina está relacionada com os sintomas do Parkinson". Uma das descobertas mais intrigantes do estudo foi que, quanto mais dopamina era preservada no núcleo caudado de um lado do cérebro (cada hemisfério tem o seu próprio núcleo caudado), maior era o tremor no mesmo lado do corpo. "Isto foi realmente inesperado", disse Joaquim Alves da Silva, coautor do estudo. "Normalmente, cada lado do cérebro controla o movimento no lado oposto do corpo". O modelo computacional desenvolvido pela equipe mostrou que este efeito "do mesmo lado" pode surgir de forma errônea devido a dois fatores: A maior preservação geral de dopamina nos núcleos caudados dos doentes com tremor e a forma desigual como o Parkinson afeta cada lado do cérebro. O estudo terá implicações para o tratamento da doença de Parkinson, mas também exigirá novas pesquisas. "É difícil estabelecer uma relação de causalidade entre a preservação da dopamina no núcleo caudado e o tremor em repouso em humanos, razão pela qual pretendemos realizar testes em modelos animais, onde podemos manipular células específicas e observar os efeitos no tremor. Vamos também tirar partido de técnicas de imagem avançadas, como PET de dopamina de alta resolução e ressonância magnética, para identificar os nós-chave no sistema dopaminérgico e relacioná-los com sintomas motores específicos. Esta abordagem pode nos ajudar a compreender melhor porque os sintomas do Parkinson variam de doente para doente," anunciou o professor Joaquim. Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br URL: https://diariodasaude.com.br/print.php?article=relacao-entre-dopamina-parkinson-paradoxal A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos. |