11/04/2011
Excesso de opções pode ser ruim para o indivíduo e para a sociedade
Redação do Diário da Saúde
A cultura ocidental tende a assumir que aquilo que as pessoas fazem e o que acontece a elas está sob seu controle, é uma consequência de suas escolhas e, portanto, é sua própria responsabilidade. [Imagem: Duncan Lilly/Wikimedia]
Alternativas demais
Ter alternativas demais em uma escolha pode ser uma coisa ruim não apenas para o indivíduo, mas também para a sociedade.
Pensar sobre as possíveis alternativas torna as pessoas menos solidárias com os outros, e também menos suscetíveis de apoiar políticas que ajudam as pessoas menos favorecidas.
E isto poderá eventualmente ter impactos sobre o bem-estar social de toda uma população a longo prazo.
Esta é a conclusão de um estudo realizado por cientistas das universidades de Colúmbia e Stanford, nos Estados Unidos.
Temos realmente opções?
Os debates políticos são frequentemente reduzidos as opções a alternativas conflitantes - escolas públicas versus escolas privadas, ou saúde pública versus planos de saúde privados, por exemplo.
Mas o contrário também ocorre.
Quando grandes acidentes naturais acontecem, muitas pessoas de fora da região questionam porque os moradores continuam morando naquelas áreas.
Ocorre que a maioria daquelas pessoas não tem opção, não tem uma alternativa para se deslocar e morar em outro lugar. "Alguns afirmam que essas pessoas fizeram escolhas ruins, mas será que elas realmente tinham uma escolha?" pergunta a pesquisadora Krishna Savani.
A cultura ocidental tende a assumir que aquilo que as pessoas fazem e o que acontece a elas está sob seu controle, é uma consequência de suas escolhas e, portanto, é sua própria responsabilidade.
Mesmo que isto nem sempre seja verdade, o resultado parece ser contundente: as pessoas atribuem a responsabilidade das mazelas aos próprios afetados e usam isso para fugir da responsabilidade de auxiliar.
Efeitos negativos das escolhas
Juntamente com suas colegas Nicole Stephens e Hazel Rose Markus, Savani procurou descobrir como pensar sobre opções alternativas, e viver em um mundo repleto de escolhas, afeta o sentimento das pessoas em relação ao bem-estar geral e às políticas públicas de bem-estar em particular.
Em um experimento, os participantes assistiam a um vídeo de uma pessoa fazendo tarefas rotineiras em um apartamento.
Alguns desses voluntários tinham que apertar a barra de espaços de um teclado todas as vezes que a pessoa no vídeo fazia uma escolha. Outros tinham que apertar a barra de espaços quando aquela pessoa tocava um objeto pela primeira vez.
A seguir, os voluntários responderam um questionário sobre suas opiniões a respeito de questões sociais.
Simplesmente pensar sobre escolhas e alternativas tornou as pessoas do primeiro grupo menos propensas a apoiar políticas públicas de promoção da igualdade e de ampliação dos benefícios para a sociedade.
Entre as políticas que perderam apoio estavam impostos sobre carros que gastam combustível demais e o banimento de videogames violentos.
Outro experimento revelou que, quando as pessoas pensam sobre escolhas, elas ficam mais propensas a culpar os outros de eventos ruins que aconteceram a elas próprias - incluindo ter um ataque cardíaco ou perder o emprego.
Diferenças culturais
Para comparar a importância da cultura sobre o assunto, as pesquisadoras repetiram os mesmos experimentos na Índia.
Pensar sobre as opções e alternativas tornou os estudantes norte-americanos menos solidários, mas não teve nenhum efeito sobre os estudantes indianos.
"Nos Estados Unidos, nós fazemos escolhas o tempo todo - no café, no supermercado, no shopping center," sugere Savani.
O que é preocupante, segundo a pesquisadora, é pensar se, no longo prazo, todas essas escolhas de consumo terão um efeito negativo para a sociedade, tornando as pessoas menos altruístas e menos preocupadas com o bem coletivo.
Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br
URL: https://diariodasaude.com.br/print.php?article=que-opcoes-realmente-temos
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