27/07/2009

Problemas nas gengivas aumentam níveis de colesterol ruim

Alex Sander Alcântara - Agência Fapesp
Problemas nas gengivas aumentam níveis de colesterol ruim
Periodontite aumenta em até quatro vezes a possibilidade de níveis patológicos de triglicérides.[Imagem: Ag.Fapesp]

O que é periodontite

Um estudo, publicado no Journal of Periodontology, revela que a periodontite - inflamação nos tecidos moles em torno dos dentes que pode afetar gengivas, ossos e ligamentos - aumenta em até quatro vezes a possibilidade de os pacientes com a doença apresentarem níveis patológicos de triglicérides quando comparados a pacientes sem periodontite.

De acordo com o artigo, atualmente a doença periodontal tem sido associada a diversas patologias de natureza sistêmica, entre elas diabetes, doenças cardiovasculares, infecções pulmonares e partos de prematuros.

Trata-se de uma doença inflamatória e infecciosa produzida por bactérias gram-negativas presentes no biofilme dental que afetam o periodonto, isto é, os tecidos envolvidos na fixação do dente ao ossos. "Caracteriza-se por intensa infiltração inflamatória que causa perda progressiva da inserção conjuntiva e pode ocorrer em indivíduos saudáveis de qualquer idade".

Aumento do colesterol ruim

De acordo com Antônio Martins Figueiredo Neto, um dos autores do artigo, a pesquisa detectou uma forte correlação entre a doença periodontal e a aterosclerose. A doença aumenta a quantidade de lipoproteína de baixa densidade (LDL, na sigla em inglês), conhecida como "colesterol ruim".

"Nossos resultados indicaram claramente que pacientes com periodontite crônica possuem altos níveis de LDL modificada, a grande vilã no desenvolvimento da aterosclerose, quando comparados com pacientes sãos. Após o tratamento periodontal, o nível de LDL modificada no plasma diminuiu", disse Figueiredo Neto à Agência FAPESP.

Pesquisa multidisciplinar

O trabalho publicado, segundo o pesquisador, envolveu um esforço multidisciplinar com a participação de físicos, imunologistas, odontólogos e matemáticos de várias universidades como a USP, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp).

"Não há dúvida de que em muitos problemas, em particular aqueles ligados à saúde e à ciência dos materiais, essa abordagem multidisciplinar é fundamental e propiciará saltos de qualidade até então não vislumbrados", disse.

No Brasil, segundo ele, a pesquisa multidisciplinar no nível da que é desenvolvida no INCT-FCx ainda é muito incipiente. "Isso se explica parcialmente pela barreira existente entre os pesquisadores das diferentes ciências da natureza. Em muitos casos a linguagem e a abordagem dos problemas parecem ser muito diferentes. Entretanto, após vencer essa barreira notamos que há um ganho específico enorme para todos os pesquisadores envolvidos", disse.

Varredura Z

Cerca de 40 pacientes com periodontite crônica participaram da pesquisa. Esses pacientes foram tratados e avaliados durante 12 meses. Para o estudo, os pesquisadores aplicaram uma nova técnica, a Varredura-Z, para a dosagem da quantidade de LDL modificada no plasma.

De acordo com Figueiredo Neto, a Varredura-Z é uma técnica de óptica não-linear. É comumente utilizada no estudo de materiais e o grupo de pesquisa a empregava para estudar propriedades de cristais líquidos e coloides magnéticos.

"Quando eu vi a estrutura de uma LDL notei que se assemelhava muito às micelas de cristais líquidos que estudávamos há mais de duas décadas. A partir daí veio a ideia de utilizar nossa técnica para investigar a assinatura não-linear da LDL e da LDL modificada. A surpresa veio quando verificamos que eram muito diferentes, possibilitando a sua identificação e quantificação", explicou.

Risco da aterosclerose

O cientista afirmou ainda que até hoje se utiliza apenas a quantidade de nível plasmático de LDL, sem detecção da quantidade de LDL modificada para avaliar o risco de desenvolvimento da aterosclerose.

"Apesar da sua má fama, a LDL é a lipoproteína mais abundante no plasma e a principal transportadora de colesterol para as células. É, portanto, essencial ao metabolismo celular", disse.

De acordo com o estudo, os resultados mostraram que o nível plasmático da lipoproteína de alta densidade (HDL, na sigla em inglês), conhecida coloquialmente como "colesterol bom", foi menor nos pacientes com periodontite.

E esses pacientes são portadores de um maior número de LDL modificadas quando comparados com os que não têm periodontite. Os resultados de Varredura-Z indicaram que a concentração de LDL modificada nos pacientes após o tratamento periodontal reduziu significativamente em comparação à dosagem determinada antes do tratamento.

Novos rumos

Segundo o pesquisador, no momento o grupo investe em "várias frentes". Estamos verificando a assinatura óptica não-linear de LDLs provenientes de diferentes indivíduos com diferentes fenótipos e grupos de risco. Por outro lado estamos pesquisando a origem dessa assinatura óptica do ponto de vista teórico. Essa compreensão ainda não está completa", conta.

O artigo publicado no Journal of Periodontology sobre periodontite foi o primeiro. Mas o grupo já publicou outros trabalhos em revistas internacionais sobre o tema da LDL e a técnica de Varredura-Z.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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