30/09/2022

Estudantes não são boas cobaias para pesquisas comportamentais

Redação do Diário da Saúde
Por que você deve desconfiar de estudos feitos com estudantes
Este estudo mostrou que é preciso olhar com cautela as conclusões de estudos comportamentais feitos com estudantes. [Imagem: Andrew Tan/Pixabay]

Estudantes não são boas cobaias

Estudantes são rotineiramente convidados a servir como voluntários nos estudos de ciências comportamentais porque eles gostam de ajudar e estão sempre próximos aos pesquisadores.

No entanto, usar apenas alunos não revela o quadro completo sobre as pessoas em geral; de fato, muitas das decisões dos estudantes nesses experimentos diferem das de outros grupos populacionais.

Estas são as conclusões de uma nova e extensa análise envolvendo 36 experimentos comparando estudantes e profissionais adultos já no mercado de trabalho, que acaba de ser realizada por uma equipe de cientistas comportamentais da Universidade Martin Luther (Alemanha).

Usar os estudantes como cobaias "faz sentido porque os alunos estão abertos e interessados em estudos científicos, eles já estão em um ambiente universitário e também são receptivos aos incentivos financeiros oferecidos nesses estudos," disse o Dr. Sven Grüner, coordenador da análise. "No entanto, não está claro se os alunos são representativos de outros grupos populacionais - afinal, eles diferem de maneiras importantes, como idade e renda".

Estudantes versus profissionais

Para dirimir as dúvidas, os pesquisadores começaram realizado um experimento comportamental usando 300 estudantes como cobaias.

O resultado mostrou que o poder de generalização do experimento - usar as conclusões obtidas com os alunos para explicar o comportamento de outras pessoas - é muito limitado.

Em um total de 36 subexperimentos, Grüner e seus colegas compararam as decisões dos estudantes de ciências agrícolas com as de agricultores adultos que não mais frequentam a escola. A equipe examinou características individuais como assumir riscos, impaciência, altruísmo, confiança, punir o comportamento injusto e recompensar o comportamento generoso.

Por exemplo, ao determinar a disposição para assumir riscos, os voluntários tinham a escolha entre uma maior probabilidade de ganhar uma pequena quantia de dinheiro e uma menor probabilidade de ganhar uma quantia maior de dinheiro. Ao contrário de estudos anteriores, o incentivo foi dado aos voluntários depois, porque os ganhos teóricos poderiam falsificar os resultados: Se os participantes soubessem que não receberiam dinheiro, poderiam ter demonstrado um grau maior de comportamento socialmente desejável.

Resultados não batem

Os resultados desse estudo comparativo abrangente revelaram um quadro fortemente misto.

Por exemplo, não há diferenças claras entre os grupos em termos de tomada de risco. "Isso contradiz estudos anteriores, em que os alunos eram mais avessos ao risco do que os agricultores," disse Grüner. As diferenças também foram pequenas quando se tratava de confiar e recompensar o comportamento generoso.

No entanto, ao testar a paciência dos dois grupos, houve diferenças maiores: Os agricultores foram muito mais propensos a escolher a opção com maior probabilidade de um pagamento mais baixo, enquanto os alunos foram consistentemente mais pacientes e esperavam mais por mais dinheiro.

Ao mesmo tempo, os agricultores recusaram ofertas injustas com mais frequência, mesmo quando isso significava que eles não receberiam nenhum dinheiro. Esses resultados não estão de acordo com estudos anteriores, que mostraram comportamento semelhante entre estudantes e outros grupos populacionais.

"Nosso estudo mostra que é realmente problemático generalizar o comportamento dos alunos para outros atores reais. Isso pode questionar muitos resultados de estudos anteriores - não apenas em ciências agrárias, mas em todas as disciplinas," concluiu Grüner.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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