29/07/2020

Por que a região amazônica conseguiu lidar melhor com a pandemia?

Com informações da Agência Fapesp

Contato prévio

O contato anterior da população da Amazônia com algum dos subtipos de coronavírus que circulam na região pode ser uma das hipóteses pelas quais, após atingir 25% de prevalência de infecção pelo SARS-CoV-2, algumas cidades da região Norte do país começaram a registrar queda no número de mortes por covid-19.

"Os últimos estudos têm mostrado que já ter tido algum contato com algum coronavírus confere proteção ao SARS-CoV-2, que é uma mutação extremamente letal em comparação com outros coronavírus mais comuns. Talvez isso explique por que a prevalência da infecção pelo novo coronavírus começou a cair depois de atingir 25% da população de cidades da região", sugere Cesar Victora, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Já na primeira fase da pesquisa, realizada entre os dias 14 e 21 de maio, seis cidades amazônicas - Manaus e Tefé, no Amazonas, Macapá, no Amapá, e Breves, Castanhal e Tefé, no Pará - despontavam como as de mais alta prevalência do SARS-CoV-2 no país. A segunda fase do estudo, que ocorreu entre os dias 4 e 7 de junho, apontou que, entre as 15 cidades com mais de 10% de prevalência, 12 estavam situadas ao longo do rio Amazonas.

"Foi surpreendente que a epidemia de covid-19 no Brasil explodisse na região amazônica. Esperávamos que isso tivesse acontecido em São Paulo ou no Rio de Janeiro," disse, acrescentando que uma das hipóteses é que o SARS-CoV-2 chegou às cidades amazônicas pela rota asiática, vindo diretamente da China, enquanto nas cidades do Sudeste do país o vírus chegou via Europa.

No Estado do Amazonas há uma forte presença de indústrias chinesas na Zona Franca de Manaus. O trânsito de pessoas vindas do país asiático - que foi o primeiro epicentro da doença - fez com que Manaus fosse a primeira cidade a registrar uma explosão de casos do novo coronavírus.

"Isso fez com que Manaus fosse mais fortemente impactada pela epidemia. São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Recife, onde o vírus chegou vindo de países da Europa, como a Itália e Espanha, foram os segundos epicentros da doença e para onde turistas brasileiros viajaram", explicou Victora.

Transportes lotados

O transporte fluvial na Amazônia, em barcos lotados, pode ter levado o vírus para cidades pequenas ao longo do rio, como Castanhal, no Pará, e Tefé, no Amazonas.

"A possibilidade de que a transmissão tivesse ocorrido ao longo do rio Amazonas, tendo iniciado em Manaus, é a mais provável", avaliou o pesquisador.

Os resultados do estudo também indicaram que a prevalência de anticorpos em indígenas é cinco vezes maior do que em brancos. Entre pardos, negros e mais pobres a prevalência é equivalente ao dobro da dos brancos.

No caso dos indígenas, de acordo com o pesquisador, uma das razões para essa disparidade na comparação com os brancos são as condições de pobreza e moradia. Projeções indicaram que, mesmo se tivessem idênticas condições de moradia, renda e educação dos brancos, os indígenas ainda teriam duas vezes mais prevalência de anticorpos em comparação com esse grupo.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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