23/01/2020 Descoberto como o estresse faz os cabelos ficarem brancosRedação do Diário da Saúde
O estresse acelera o envelhecimento das células-tronco do bulbo capilar e interrompe permanentemente a produção do pigmento que colore os fios.[Imagem: William A. Goncalves]
Atualização - 23/06/21 - 07h50 A validade desta pesquisa para os seres humanos foi questionada por outro estudo publicado em 23/06/21 - veja Cabelos brancos causados pelo estresse podem ser revertidos. Este artigo foi mantido como originalmente publicado, uma vez que todas as suas conclusões parecem ser válidas para os camundongos. Estresse faz cabelos ficarem brancos Que o estresse acelera o processo de embranquecimento dos cabelos é algo que faz parte da sabedoria popular há muito tempo - o ditado "Você está me deixando de cabelos brancos" tem sido repetido por pais há séculos. Mas como o estresse acelera o processo de despigmentação capilar - também conhecido como canície - ainda não fazia parte do saber científico porque os cientistas não conheciam o mecanismo que associa uma coisa à outra. Uma equipe formada por pesquisadores do Brasil (Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias) e dos EUA (Universidade Harvard) acaba de descobrir, um tanto por acaso, esse mecanismo que faz com o estresse faz os cabelos embranquecerem. E, talvez a melhor notícia de todas, eles descobriram também como interromper o processo, o que poderá permitir que pessoas que não consigam controlar o estresse mantenham seus cabelos na cor original. "Fazíamos um estudo sobre dor em camundongos da linhagem Black-C57, cuja pelagem é negra. Nesse modelo, administramos uma substância chamada resiniferatoxina para ativar um receptor expresso nas fibras nervosas sensoriais e induzir uma sensação dolorosa intensa. Cerca de quatro semanas após a injeção sistêmica da toxina, um aluno de doutorado observou que os animais estavam com os pelos completamente brancos," conta o professor Thiago Mattar Cunha, da USP de Ribeirão Preto (SP). Estresse -> sistema nervoso -> canície O experimento foi repetido algumas vezes, até que o grupo se convenceu de que o embranquecimento dos fios havia de fato sido causado pela aplicação da substância química extraída da planta Euphorbia resinifera, muito parecida com um cacto. Quanto maior o estresse, induzido pela dor na aplicação da substância, mais pelos brancos surgiam nos animais. "Aventamos a hipótese de que a despigmentação dos pelos seria resultado do estresse induzido pela dor. Idealizamos, então, um experimento muito simples para verificar se o fenômeno era dependente da ativação das fibras nervosas simpáticas," contou Cunha, acrescentando que o sistema nervoso simpático guarda uma relação íntima com o estresse. Essa divisão do sistema nervoso autônomo - composta por inervações que correm ao lado da medula espinhal - controla as respostas do organismo a situações de perigo iminente. Por meio de uma onda de adrenalina e cortisol, o sistema nervoso simpático faz o coração bater mais rápido, a pressão arterial subir, a respiração acelerar e as pupilas dilatarem, entre outros efeitos sistêmicos que visam preparar o corpo para "lutar ou correr". Estudos posteriores, feitos em colaboração com a Universidade de Harvard, mostraram que todo o processo do estresse chega aos cabelos por meio das células-tronco melanocíticas existentes dentro do bulbo capilar. São elas as responsáveis pela geração de células produtoras de melanina (melanócitos), pigmento que colore os fios. "Quando somos jovens, essas células encontram-se em um estado indiferenciado - como todas as células-tronco. À medida que envelhecemos, vão gradualmente se diferenciando e, quando o processo se completa, param de produzir os melanócitos. Demonstramos, por diversas metodologias, que uma ativação simpática intensa faz com que o processo de diferenciação progrida muito mais rapidamente. Ou seja, em nosso modelo, a dor acelerou o envelhecimento das células-tronco melanocíticas," explicou Cunha. O estresse agudo induz a hiperativação do sistema nervoso simpático (magenta), que libera grandes quantidades do neurotransmissor norepinefrina. A norepinefrina promove a rápida depleção de células-tronco de melanócitos (amarelo) e torna os cabelos grisalhos. [Imagem: Hsu Laboratory/Harvard University] Como evitar que os cabelos fiquem brancos Infelizmente o dano é permanente, ou seja, não dá para escurecer de novo os cabelos já embranquecidos pelo estresse. Mas a equipe descobriu que é possível interromper o processo nas pessoas cujos cabelos ainda estão escuros. "Depois de injetarmos a resiniferatoxina nos camundongos, tratamos os animais com guanetidina, um anti-hipertensivo capaz de inibir a neurotransmissão pelas fibras simpáticas. Observamos que o processo de embranquecimento capilar foi bloqueado pelo tratamento," contou Cunha. Em outro experimento, a neurotransmissão foi interrompida pela remoção cirúrgica das fibras simpáticas dos roedores. Também nesse caso, a despigmentação capilar não ocorreu nas semanas que seguiram o procedimento para indução da dor. Na avaliação de Cunha, é bem provável que outros sistemas do organismo sofram efeitos equiparáveis ao observado no bulbo capilar em uma condição de estresse intenso. "Ainda não sabemos ao certo quais são as implicações. No momento, investigo com outros colaboradores o efeito da ativação simpática em outras subpopulações de células-tronco," disse. Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br URL: https://diariodasaude.com.br/print.php?article=por-que-estresse-faz-cabelos-ficarem-brancos A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos. |