17/09/2019

Polarização política pode ser gerada por efeito maria vai com as outras

Redação do Diário da Saúde
Polarização política pode ser gerada por efeito
Parece que nosso cérebro prefere ser progressista do que conservador - mas isso não é suficiente para evitar a discórdia onde deveria imperar o diálogo.[Imagem: Cortesia Charité - Universitätsmedizin Berlin]

Cascata de opinião

Talvez o acirramento das posições políticas recentes não reflita diferenças ideológicas profundamente enraizadas, como muitos acreditam.

Michael Macy e seus colegas da Universidade Cornell (EUA) estão propondo uma interpretação fundamentalmente diferente para esses radicalismo: Pode ser meramente uma questão conhecida popularmente como "maria vai com as outras", em que as pessoas mergulham em uma opinião sem uma adequada ponderação sobre ela.

Para uma explicação tão "inovadora", a equipe se baseou em um fenômeno chamado cascata de opinião, no qual os partidários se amontoam ao redor de qualquer posição que surja e que eles identifiquem com seu partido ou com sua postura de direita (conservadores) ou esquerda (progressistas).

"Por que os principais partidos políticos mudaram de posição em questões como livre comércio, orçamentos equilibrados, legalização da maconha, casamento entre pessoas do mesmo sexo e confiança na ciência? E como é que os eleitores de ambos os lados geralmente têm posições contraditórias sobre os direitos ao aborto e pena de morte?" enumera Macy.

Mundos paralelos

Para tentar encontrar respostas para essas questões, Macy idealizou um experimento para recriar os primeiros momentos da formação de opinião em torno de um tema, para ver como as cartas poderiam ter caído de maneira diferente se os pioneiros mantivessem opiniões arbitrárias diferentes.

Mais de 2.000 voluntários foram divididos entre democratas (progressistas) e republicanos (conservadores) - os dois partidos majoritários dos EUA - em 10 "mundos paralelos", cada um isolado dos outros.

Em cada mundo, os participantes se revezavam no preenchimento de uma pesquisa no computador para indicar se concordavam ou discordavam de uma série de questões políticas e culturais pouco familiares. Em dois dos dez mundos, a pesquisa foi privada, mas nos outros oito, sempre que um partidário assumia uma posição em uma determinada questão, todos os outros participantes em seu mundo viam uma atualização em tempo real mostrando para que lado cada participante pendia.

Efeito manada

Os resultados mostraram como um punhado de "primeiras opiniões" pode desencadear uma cascata na qual mais tarde os partidários se aglomeram na nova posição emergente associada ao seu partido, levando eventualmente a grandes diferenças políticas.

A grande surpresa foi que a parte que apoiou a questão em um mundo teve a mesma probabilidade de se opor à questão em outro mundo - ou seja, as pessoas não defendiam opiniões pessoais bem fundamentadas, elas apenas pareciam se juntar a uma espécie de "efeito manada".

"Em um mundo, foram os democratas que preferiram usar a inteligência artificial para detectar criminosos on-line e, em outro mundo, os republicanos," contou Macy. "Em um mundo, os democratas eram favoráveis aos livros clássicos e, em outro mundo, os republicanos preferiam os clássicos. Em um mundo, os democratas eram mais otimistas em relação ao futuro e, em outro mundo, eram os republicanos".

O pesquisador afirma esperar que essas descobertas ajudem a civilizar o discurso político e amenizar as polarizações.

"Em nosso mundo, as divisões políticas são defendidas ferozmente demais. Os dois lados ficam muito excitados, o que parece indicar que as posições são divisões fundamentais profundamente enraizadas. Mas nosso estudo sugere que essas posições podem ser apenas marcadores de identidade, como adesivos, o resultado de cascatas de opinião que levaram as pessoas a uma posição com as quais elas se identificaram emocionalmente.

"Aprender que as duas partes poderiam facilmente mudar de lado pode encorajar as pessoas a reexaminar suas posições e ouvir as opiniões das pessoas com as quais discordam frontalmente," afirmou Macy.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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