08/07/2014

Parar para pensar pode ser uma tortura para muitos

Redação do Diário da Saúde
Parar para pensar pode ser uma tortura para muitos
"Aqueles de nós que dedicamos algum tempo para apenas pensar provavelmente vão achar os resultados deste estudo surpreendente - eu certamente achei," disse o professor Timothy Wilson.[Imagem: Sanjay Suchak/Univ.Virginia]

Momentos de reflexão

Psicólogos, líderes espirituais e gurus de todas as tradições não se cansam de recomendar que as pessoas entrem em contato consigo mesmas, conheçam-se a si mesmas e, a partir daí, partam para a melhoria pessoal.

Mas, apesar dos muitos chamamentos, parece que poucos serão capazes de responder.

Um estudo que já está se tornando um dos mais comentados no meio científico dos últimos tempos concluiu que a maioria das pessoas não se sente nada confortável em lidar unicamente consigo mesmas, em ficar sozinhas com seus pensamentos.

Os resultados foram tão surpreendentes que a equipe do professor Timothy Wilson, da Universidade da Virgínia (EUA), foi idealizando um experimento após o outro - foram 11 no total - para tentar identificar o que tornava os voluntários incapazes de simplesmente parar para pensar.

Mas os voluntários foram capazes até mesmo de ferir a si mesmos - dando-se choques elétricos voluntariamente - para tentar fugir dos momentos de reflexão.

Surpreendente

"Aqueles de nós que dedicamos algum tempo para apenas pensar provavelmente vão achar os resultados deste estudo surpreendente - eu certamente achei - mas os nossos participantes consistentemente demonstraram que preferem ter algo para fazer do que não ter nada além dos seus pensamentos, mesmo por um período bastante breve de tempo," disse o Dr. Wilson.

O período de tempo que Wilson e seus colegas pediram aos voluntários para ficar a sós com seus pensamentos variou de seis a 15 minutos. A maioria afirmou que este "período de reflexão" não foi muito agradável e que era difícil se concentrar.

Os participantes, de modo geral, preferiram largamente fazer qualquer atividade - como ouvir música ou usar um smartphone - do que ficar pensando. Os resultados foram consistentes em voluntários de todas as faixas etárias, dos 18 aos 77 anos de idade.

"Isso foi surpreendente - mesmo as pessoas mais velhas não demonstraram qualquer carinho especial por estar sozinhas pensando," disse Wilson.

Desconectar do mundo

O pesquisador disse não atribuir esse comportamento ao tão falado "ritmo acelerado da sociedade moderna", ou mesmo à prevalência dos aparelhos eletrônicos pessoais.

Em vez disso, ele acha que os aparelhos eletrônicos podem ser uma resposta ao desejo das pessoas de ter sempre algo para fazer.

No artigo, publicado na revista Science, a equipe destaca que pesquisas amplas têm mostrado que as pessoas geralmente preferem não se desconectar do mundo, e, quando o fazem, não gostam disso - elas preferem assistir televisão ou ler, e dificilmente vão dedicar seu tempo para "relaxar ou pensar".

Ferir a si mesmo

Como a maioria dos voluntários preferia ter algo para fazer do que apenas pensar, os pesquisadores então se perguntaram: "Será que eles também prefeririam fazer uma atividade desagradável do que nenhuma atividade?"

Os resultados mostraram que muitos preferem.

Os participantes foram colocados nas mesmas circunstâncias anteriores, com a opção adicional de poder administrar-se um choque elétrico leve pressionando um botão - todos receberam previamente uma amostra do choque e disseram que pagariam para não recebê-lo novamente.

Contudo, 12 dos 18 homens (67%), e 6 das 24 mulheres (25%) aplicaram-se o choque voluntariamente para se distrair durante seus momentos de reflexão - um dos voluntários aplicou-se dezenas de choques.

"O que é surpreendente," escrevem os pesquisadores, "é que simplesmente estar a sós com seus próprios pensamentos por 15 minutos era algo aparentemente tão aversivo que levou muitos participantes a autoadministrar um choque elétrico que eles haviam dito anteriormente que iriam pagar para evitar."

Falta de orientação

Malia Mason, psicóloga da Universidade de Colúmbia, não envolvida no estudo, disse em entrevista à revista Nature que talvez deixar as pessoas sozinhas para reflexão não seja o suficiente.

"Não é suficiente dar às pessoas um ponto de entrada. Elas precisam de uma direção para avançar," disse ela.

Assim, quando ouvir de algum guru a recomendação para "olhar para dentro de si mesmo" ou "conhecer a si mesmo", talvez seja melhor perguntar "Como", em vez de sair correndo para tomar um choque.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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