18/01/2021

Não é preciso ter um cérebro para precisar dormir

Redação do Diário da Saúde

Origem do sono

Ficar acordado por muito tempo e pensar direito pode se tornar extremamente difícil.

Felizmente, alguns cochilos costumam ser suficientes para fazer nosso cérebro funcionar de novo.

Mas quando, e por que, os animais começaram a precisar dormir? E ter um cérebro é mesmo um pré-requisito para a necessidade de dormir?

Em um trabalho que promete ajudar a desvendar a origem do sono, uma equipe internacional de pesquisadores mostrou que minúsculas hidras aquáticas (Hydra vulgaris) não só mostram sinais de um estado semelhante ao sono - apesar de não terem um sistema nervoso central -, mas também respondem a moléculas associadas ao sono em animais mais evoluídos, que têm cérebros.

Esta descoberta sugere que muitos mecanismos relacionados ao sono se desenvolveram antes do cérebro e podem ter sido conservados durante a evolução do sistema nervoso central.

"Agora temos fortes evidências de que os animais devem ter adquirido a necessidade de dormir antes de adquirir um cérebro," defende o professor Taichi Itoh, da Universidade de Kyushu (Japão). "Com base em nossas descobertas e relatórios anteriores sobre águas-vivas, podemos dizer que a evolução do sono é independente da evolução do cérebro."

O que veio primeiro, o sono ou o cérebro?
Mesmo sem cérebro, o animal tem seu sono alterado por substâncias que alteram o sono daqueles que têm cérebro.
[Imagem: Taichi Q. Itoh/Universidade Kyushu]

Sono sem cérebro

Embora o sono seja frequentemente monitorado com base na medição das ondas cerebrais, essa não é uma opção para animais minúsculos e sem cérebro. Como alternativa, os pesquisadores usaram um sistema de vídeo para rastrear o movimento e determinar quando as hidras estavam em um estado semelhante ao sono, caracterizado por movimento reduzido - e essa inanição pode ser interrompida com um flash de luz.

Em vez de se repetir a cada 24 horas, como um ritmo circadiano, o sono das hidras apresenta um ciclo de quatro horas de estados ativos e estados semelhantes ao sono.

Mais importante ainda, os pesquisadores descobriram muitas semelhanças relacionadas à regulação do sono em um nível molecular e genético, independentemente de o animal ter ou não um cérebro.

Substâncias que ajudam e atrapalham o sono

Finalmente, a equipe descobriu ainda que várias substâncias químicas que provocam sonolência e sono, mesmo em humanos, tiveram efeitos semelhantes na hidra.

A exposição das hidras à melatonina, um auxílio para dormir comumente usado, aumentou moderadamente a quantidade e a frequência do sono, enquanto o neurotransmissor inibitório GABA, outra substância química ligada à atividade do sono em muitos animais, aumentou muito a atividade do sono. Por outro lado, a dopamina, que causa excitação em muitos animais, na verdade promoveu o sono nas hidras.

"Tomados em conjunto, esses experimentos fornecem fortes evidências de que os animais adquiriram mecanismos relacionados ao sono antes do desenvolvimento evolutivo do sistema nervoso central e que muitos desses mecanismos foram conservados conforme o cérebro evoluiu," concluiu Itoh.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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