08/08/2024 O que é o amor? Filósofa explica que não é uma escolha ou um sentimento, é uma práticaEdith Gwendolyn Nally - The Conversation
Você sabia que o amor já foi considerado uma doença?[Imagem: Duncan Dao/Pixabay]
O que é amor? O amor é confuso. Pessoas nos EUA pesquisam no Google a palavra "amor" cerca de 1,2 milhão de vezes por mês. Aproximadamente um quarto dessas pesquisas pergunta "O que é amor" ou solicita uma "definição de amor". Por que tanta confusão? A neurociência nos diz que o amor é causado por certas substâncias químicas no cérebro. Por exemplo, quando você conhece alguém especial, os hormônios dopamina e noradrenalina podem desencadear uma resposta de recompensa que faz você querer ver essa pessoa novamente. Assim como provar chocolate, você quer mais. Seus sentimentos seriam o resultado dessas reações químicas. Perto de uma paixão ou de um melhor amigo, você provavelmente sente algo como excitação, atração, alegria e carinho. Você acende quando eles entram na sala. Com o tempo, você poderá sentir conforto e confiança. O amor entre pais e filhos parece diferente, muitas vezes uma combinação de afeto e cuidado. Mas serão essas sensações, causadas por reações químicas em seu cérebro, tudo o que o amor é? Se sim, então o amor parece ser algo que largamente acontece a você. Você teria tanto controle sobre se apaixonar quanto teria sobre cair acidentalmente em um buraco - não muito. Como uma filósofa que estuda o amor, eu estou interessada nas diferentes maneiras como as pessoas entenderam o amor ao longo da história. Muitos pensadores acreditam que o amor é mais do que um sentimento [Nota do Editor: A autora usa o termo sentimento no sentido de sensação]. O amor embaralha o cérebro e ativa múltiplos hormônios. [Imagem: Pexels/Pixabay] Mais que um sentimento O filósofo grego Platão pensava que o amor poderia causar sentimentos como atração e prazer, que estão fora do seu controle. Mas esses sentimentos são menos importantes do que os relacionamentos amorosos que você escolhe formar como resultado: Laços duradouros entre pessoas que se ajudam mutuamente a mudar e a crescer até se tornarem o melhor de si mesmas. Da mesma forma, Aristóteles, aluno de Platão, afirmou que, embora os relacionamentos construídos sobre sentimentos como o prazer sejam comuns, eles são menos bons para a humanidade do que os relacionamentos construídos sobre a boa vontade e as virtudes compartilhadas. Isso ocorre porque Aristóteles pensava que os relacionamentos construídos sobre sentimentos duram apenas enquanto os sentimentos duram. Imagine que você inicia um relacionamento com alguém com quem você tem pouco em comum, a não ser que ambos gostem de jogar videogame. Se algum de vocês não gostasse mais de jogar, nada manteria o relacionamento unido. Como o relacionamento é baseado no prazer, ele desaparecerá quando o prazer acabar. Compare isso com um relacionamento em que vocês desejam estar juntos não por causa de um prazer compartilhado, mas porque se admiram por quem vocês são. Vocês querem o que é melhor um para o outro. Este tipo de amizade, construída sobre a virtude e a boa vontade compartilhadas, será muito mais duradoura. Esses tipos de amigos apoiarão uns aos outros à medida que mudam e crescem. Platão e Aristóteles pensavam que o amor é mais do que um sentimento. É um vínculo entre pessoas que se admiram e, portanto, optam por apoiar umas às outras ao longo do tempo. Talvez, então, o amor não esteja totalmente fora do seu controle. Onde nós sentimos o amor? [Imagem: Parttyli Rinne et al. - 10.1080/09515089.2023.2252464] Celebrando a individualidade e mantendo-se apaixonado O filósofo contemporâneo J. David Velleman também pensa que o amor pode ser desembaraçado dos "gostos e anseios" que o acompanham - aquele friozinho na barriga. Isso ocorre porque o amor não é apenas um sentimento. É um tipo especial de atenção, que celebra a individualidade de uma pessoa. Velleman diz que o Dr. Theodor Seuss Geisel (1904-1991) fez um bom trabalho ao descrever o que significa celebrar a individualidade de uma pessoa quando escreveu: "Vamos! Abra a boca e grite para o céu! Grite bem alto: 'EU SOU! EU! Eu sou Eu!'" Quando você ama alguém, você o celebra porque valoriza o "EU SOU EU" que ele é. Você também pode melhorar no amor. O psicólogo social Erich Fromm (1900-1980) acreditava que amar é uma habilidade que requer prática: O que ele chama de "permanecer apaixonado". Quando você está apaixonado, você age de certas maneiras em relação a uma pessoa. Assim como aprender a tocar um instrumento, você também pode amar melhor com paciência, concentração e disciplina. Isso ocorre porque permanecer apaixonado é feito de outras habilidades, como ouvir com atenção e estar presente. Se você melhorar nessas habilidades, poderá melhorar em amar. Se for esse o caso, então o amor e a amizade são distintos dos sentimentos que os acompanham. Amor e amizade são laços formados por habilidades que você escolhe praticar e aprimorar. Posso decidir me apaixonar? Isso significa que você pode se apaixonar por alguém que odeia ou se forçar a se apaixonar por alguém por quem não sente nada? Provavelmente não. A filósofa Virginia Held (1929-) explica a diferença entre fazer uma atividade e participar de uma prática como simplesmente fazer algum trabalho versus fazer algum trabalho ao mesmo tempo em que estabelece valores e padrões. Compare um professor de matemática que resolve mecanicamente um problema no quadro com um professor que fornece aos alunos uma explicação detalhada da solução. O professor mecânico está realizando a atividade - apresentando a solução -, enquanto o professor engajado está participando da prática de ensino. O professor engajado está adotando bons valores e padrões de ensino, como a criação de um ambiente de aprendizagem divertido. Permanecer apaixonado é uma prática no mesmo sentido. Não é apenas um monte de atividades que você realiza. Estar realmente apaixonado é realizar essas atividades ao mesmo tempo em que promove valores e padrões amorosos, como empatia, respeito, vulnerabilidade, honestidade e, se Velleman estiver certo, celebrar uma pessoa por quem ela realmente é. Namoro ou amizade? Dois terços dos casais românticos começam como amigos. [Imagem: Sasin Tipchai/Pixabay] Quanto controle você tem sobre o amor? É melhor entender o amor como um sentimento ou uma escolha? Pense no que acontece quando você termina com alguém ou perde um amigo. Se você entende o amor puramente em termos dos sentimentos que ele desperta, o amor acaba quando esses sentimentos desaparecem, mudam ou são suspensos por algo como uma mudança ou uma nova escola. Por outro lado, se o amor é um vínculo que você escolhe e pratica, será necessário muito mais do que o desaparecimento de sentimentos ou mudanças na vida para acabar com ele. Você ou seu amigo podem não sair por alguns dias ou podem se mudar para uma nova cidade, mas o amor pode persistir. Se esse entendimento estiver correto, então o amor é algo sobre o qual você tem mais controle do que pode parecer. Amar é uma prática. E, como qualquer prática, envolve atividades que você pode optar por fazer - ou não - como sair, ouvir e estar presente. Além disso, praticar o amor envolverá a adoção de valores corretos, como respeito e empatia. Embora os sentimentos que acompanham o amor possam estar fora de seu controle, a forma como você ama alguém está sob seu controle. Edith Gwendolyn Nally, autora deste artigo, é professora de Filosofia na Universidade de Missouri (EUA). Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation, no qual poderá ser lida a versão original em inglês. Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br URL: https://diariodasaude.com.br/print.php?article=o-amor-filosofa-explica-nao-escolha-ou-sentimento-pratica A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos. |