23/01/2024

Nossas memórias não são confiáveis porque gostamos de histórias completas

Redação do Diário da Saúde

Lembrar o que nunca aconteceu

As memórias humanas são qualquer coisa, menos confiáveis, o que pode ser incômodo e nos levar a avaliações incorretas, mas também pode ser usado para fins terapêuticos, sobretudo em casos de traumas.

Agora, um trio de pesquisadores da Universidade de Sussex (Reino Unido), acredita ter descoberto a causa desse fenômeno.

Segundo eles, nossa memória não é confiável porque nós preferimos histórias com finais previsíveis: A tendência humana de construir histórias completas, com início, meio e fim claros, nos leva a lembrar mal a conclusão dos acontecimentos cotidianos, que não seguem essa previsibilidade, e até mesmo a "lembrar" acontecimentos que nunca aconteceram para preencher o final faltante de algum episódio.

Os pesquisadores mostraram 24 vídeos para 351 participantes em cinco experimentos diferentes. Os participantes assistiram a uma seleção de videoclipes que documentavam atividades humanas cotidianas, mas em todos faltava o final de cada cenário ou enredo. Os voluntários deviam relembrar o que aconteceu logo após assistir aos vídeos, e relembrar novamente uma semana depois.

Os pesquisadores descobriram que, em cerca de 42,5% das vezes, os participantes se lembravam falsamente do final de um clipe uma semana depois.

"Em vez de expor falhas no funcionamento da nossa memória, as nossas descobertas revelam, na verdade, um sistema de memória que está adaptado ao mundo em que vivemos. Criamos memórias que são 'melhores suposições' coerentes e lógicas sobre as nossas experiências. No entanto, existem situações - como quando o sistema de justiça criminal depende de relatos de testemunhas oculares de eventos - quando memórias precisas são absolutamente críticas," disse o professor Chris Bird.

Falsas memórias

Os tipos de memórias falsas registradas pelos participantes eram frequentemente semelhantes. Em um vídeo, os participantes observaram um jogo de beisebol em que a filmagem foi pausada no momento em que a bola voava em direção ao batedor. Depois de uma semana, cerca de 20% dos participantes afirmaram consistentemente ter visto o batedor acertar a bola, alguns até estendendo a memória para dizer que ele acertou um homerun com a multidão enlouquecida, embora nunca tivessem visto isso acontecer.

Por outro lado, quando os clipes terminaram conforme o esperado, como assistir ao batedor bater na bola no final do vídeo, a memória dos participantes permaneceu razoavelmente intacta, com falsas memórias se desenvolvendo em apenas 8,2% desses vídeos.

Por último, os pesquisadores testaram o viés humano para lembrar histórias completas, mostrando aos participantes vídeos que incluíam uma história completa e, depois de concluída, incluíram o início de uma nova história. Cerca de dois terços dos participantes (66%) esqueceram completamente a nova cena, o que indica que eles reduziram a memória para se concentrar no evento concluído anteriormente.

"As memórias não são de jeito nenhum como gravações objetivas de vídeo do passado, mas são fortemente influenciadas pelo que já sabemos e acreditamos sobre o mundo. Ao estarmos cientes desses vieses, podemos ser mais cautelosos ao confiar apenas nas memórias para decisões importantes e pensar com cuidado sobre a informação antes de aceitá-la como a verdade absoluta," concluiu a pesquisadora Dominika Varga.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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