09/09/2022

Descobertos neurônios que conectam gordura corporal ao cérebro

Redação do Diário da Saúde
Descobertos neurônios que fazem comunicação da gordura corporal com o cérebro
Este é um neurônio sensorial, aqui mostrado em fluorescência, que começa perto da espinha e se espalha pelo tecido adiposo abdominal. [Imagem: Scripps Research]

Comunicação gordura-cérebro

Durante anos, os cientistas acreditaram que os hormônios flutuando passivamente no sangue eram a maneira que a gordura de uma pessoa - chamada tecido adiposo - usava para enviar informações relacionadas ao estresse e ao metabolismo para o cérebro.

Nos últimos anos, porém, ficou clara a existência de uma complexa rede de comunicação cérebro-intestino, o que levou os cientistas a começarem a mapear os neurônios desse "cérebro abdominal", batizado mais recentemente de sistema nervoso entérico. Isso aumentou o interesse em buscar outras conexões do sistema nervoso.

Agora, pesquisadores descobriram neurônios sensoriais que carregam um fluxo de mensagens especificamente do tecido adiposo para o cérebro.

"A descoberta desses neurônios sugere pela primeira vez que seu cérebro está pesquisando ativamente sua gordura, em vez de apenas receber passivamente mensagens sobre ela. As implicações dessa descoberta são profundas," disse Li Ye, do instituto de pesquisas Scripps (EUA).

Neurônios do tecido adiposo

Nos mamíferos, o tecido adiposo armazena energia na forma de células de gordura e, quando o corpo precisa de energia, ele libera essas reservas. O tecido adiposo também controla uma série de hormônios e moléculas de sinalização relacionadas à fome e ao metabolismo. Em doenças como diabetes, doença hepática gordurosa, aterosclerose e obesidade, esse armazenamento e sinalização de energia geralmente apresentam problemas.

Os cientistas sabem há muito tempo que os nervos se estendem ao tecido adiposo, mas eles consideravam que os nervos na gordura pertenciam principalmente ao sistema nervoso simpático - a rede responsável por nossa resposta de luta ou fuga, que ativa as vias de queima de gordura durante períodos de estresse e atividade física. Mas os métodos usados para estudar os neurônios mais próximos da superfície do corpo ou do cérebro não funcionam bem no tecido adiposo, onde os nervos são difíceis de ver ou estimular, o que deixou o assunto pouco esclarecido.

Ye e seus colegas desenvolveram agora dois novos métodos que lhes permitiram superar essas dificuldades de pesquisa. Primeiro, eles criaram uma técnica de imagem, chamada HYBRiD, que tornou os tecidos dos camundongos transparentes, permitindo acompanhar melhor os caminhos dos neurônios à medida que eles serpenteiam no tecido adiposo. Para melhor investigar o papel desses neurônios no tecido adiposo, o grupo desenvolveu uma segunda técnica, que eles chamaram de ROOT, sigla em inglês para "vetor retrógrado otimizado para rastreamento de órgãos", que destrói seletivamente pequenos subconjuntos de neurônios sensoriais no tecido adiposo usando um vírus, permitindo então observar o que acontece.

Os pesquisadores descobriram que quase metade dos neurônios no tecido adiposo não se conecta ao sistema nervoso simpático, mas sim aos gânglios da raiz dorsal, uma área do cérebro onde todos os neurônios sensoriais se originam.

Neurônios simpáticos aceleram, neurônios sensoriais freiam

Os experimentos revelaram que, quando o cérebro não recebe mensagens sensoriais do tecido adiposo, programas acionados pelo sistema nervoso simpático - relacionados à conversão de gordura branca em gordura marrom - tornam-se excessivamente ativos nas células de gordura, resultando em uma gordura maior que o normal, com níveis especialmente altos de gordura marrom, que quebra outras moléculas de gordura e açúcar para produzir calor. De fato, os animais com neurônios sensoriais bloqueados - e altos níveis de sinalização simpática - apresentaram um aumento na temperatura corporal.

As descobertas indicam que os neurônios sensoriais e os neurônios simpáticos podem ter duas funções opostas, com os neurônios simpáticos necessários para ativar a queima de gordura e a produção de gordura marrom, e os neurônios sensoriais necessários para desativar esses programas.

"Isso nos diz que não há apenas uma instrução de tamanho único que o cérebro envia para o tecido adiposo," disse Li. "É mais sutil do que isso; esses dois tipos de neurônios estão agindo como um pedal do acelerador e um freio para queimar gordura."

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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