24/01/2023

Eu não vejo, eu não ouço, mas eu sei

Redação do Diário da Saúde
Não vejo, não ouço, mas sei
O córtex temporal superior humano possui uma arquitetura funcional inata que lhe permite representar informações coerentes entre os sentidos, dispensando experiências sensoriais prévias para se desenvolver.[Imagem: Francesca Setti/Scuola IMT Alti Studi Lucca]

Nascemos sabendo

Para construir uma representação do mundo externo e dar-lhe um sentido coerente, nosso cérebro precisa processar e integrar informações provenientes de todos os nossos sentidos, incluindo visão e audição.

Mas se esse "processamento multissensorial" é inato e está presente desde o nascimento no cérebro humano, ou se depende do aprendizado e da experiência, é algo que os cientistas continuam discutindo.

Agora, uma equipe italiana de neurocientistas demonstrou que a capacidade do cérebro de representar informações coerentes entre os sentidos depende principalmente de uma arquitetura funcional inata de regiões específicas do córtex cerebral. E essas regiões funcionam independentemente de qualquer experiência sensorial adquirida após o nascimento.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores compararam a atividade cerebral em três grupos diferentes de indivíduos: Pessoas com desenvolvimento típico, cegos congênitos e surdos congênitos.

A reação do cérebro foi avaliada com ressonância magnética funcional (fMRI) enquanto os voluntários estavam assistindo ou ouvindo à mesma versão editada do filme 101 Dálmatas. Mais especificamente, os cegos ouviram a versão auditiva do filme, enquanto os surdos assistiram à versão visual. As mesmas condições experimentais foram adotadas com indivíduos com visão e audição tipicamente desenvolvidos. As respostas cerebrais foram então comparadas.

"Ao medir a sincronização cerebral entre os indivíduos que estavam assistindo ao filme e os que ouviam a narrativa, identificamos as regiões do cérebro que acoplam informações em modalidades sensoriais," explicou a professora Francesca Setti, da Escola de Altos Estudos Lucca. "Descobrimos que um trecho específico do córtex, o córtex temporal superior, endossa uma representação do mundo externo que é compartilhada entre as modalidades e é independente de qualquer experiência visual ou acústica desde o nascimento, uma vez que a mesma representação está presente também nos participantes cegos e surdos."

Natureza versus criação

Esta conclusão aumenta o velho debate "natureza versus educação" e traz mais peso aos indícios de que a arquitetura do cérebro pode se desenvolver independentemente da experiência sensorial.

Em seu trabalho, os pesquisadores forneceram evidências de que essa área do córtex cerebral codifica várias propriedades básicas de estímulos e combina informações de dois sentidos diferentes, o visual e o canal acústico.

"Em termos simples, esta é a área onde a imagem visual de um 'cachorro' é acoplada ao sinal acústico do cachorro latindo, deixando claro para o nosso cérebro que os dois estímulos vindos de dois sentidos diferentes referem-se ao mesmo 'objeto' do mundo," exemplificou Setti.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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