Minha pele está coçando, posso coçar? Se for alérgico, é melhor não

Coçar faz um pouco de bem e um pouco de mal - agora é ponderar os dois efeitos.[Imagem: Andrew W. Liu et al. - 10.1126/science.adn9390]

O que é melhor: Coçar ou não coçar?

Parece que seus pais, se não estavam totalmente certos, ao menos tinham uma boa dose de razão quando diziam para você não coçar aquela pequena pereba (uma erupção cutânea) que incomodava na sua pele: Coçar piora a situação em muitos casos - mas não em todos.

E agora sabemos o porquê, graças a uma nova pesquisa que revela como coçar agrava a inflamação e o inchaço - pelo menos foi isso o que aconteceu em camundongos geneticamente modificados para apresentar um tipo de eczema chamado dermatite alérgica de contato.

"A princípio, estas descobertas pareciam introduzir um paradoxo: Se coçar uma coceira é ruim para nós, por que é tão bom [coçar]?", comentou o professor Daniel Kaplan, da Universidade de Pittsburgh (EUA). "Coçar é frequentemente prazeroso, o que sugere que, para ter evoluído, esse comportamento deve fornecer algum tipo de benefício. Nosso estudo ajuda a resolver esse paradoxo ao fornecer evidências de que coçar também fornece defesa contra infecções bacterianas da pele."

A dermatite alérgica de contato é uma reação a alérgenos ou irritantes da pele - incluindo hera venenosa e certos metais, como níquel - levando a uma erupção cutânea inchada e com coceira. Sucumbir à vontade quase irresistível de coçar desencadeia mais inflamação, o que piora os sintomas e retarda a cura.

Para descobrir o que impulsiona esse ciclo vicioso, a equipe usou alérgenos causadores de coceira para induzir sintomas semelhantes aos do eczema nas orelhas de camundongos normais e de outros que não sentiam coceira porque não tinham um neurônio sensível à coceira.

Quando coçar faz mal

Quando os camundongos normais tiveram as orelhas livres para coçar, as orelhas ficaram inchadas e cheias de células imunes inflamatórias, chamadas neutrófilos. Em contraste, a inflamação e o inchaço foram muito mais brandos nos camundongos normais que não conseguiam coçar porque usavam pequenos tampões, e nos animais que não tinham o neurônio sensor de coceira. Este experimento confirmou que coçar agrava ainda mais a pele.

Em seguida, os pesquisadores mostraram que coçar faz com que os neurônios sensíveis à dor liberem um composto chamado substância P. Por sua vez, a substância P ativa os mastócitos, que são os principais coordenadores da inflamação que causam coceira e inflamação por meio do recrutamento de neutrófilos.

"Na dermatite de contato, os mastócitos são ativados diretamente pelos alérgenos, o que causa inflamação e coceira menores," explicou Kaplan. "Em resposta ao coçar, a liberação da substância P ativa os mastócitos por meio de uma segunda via, então a razão pela qual o coçar desencadeia mais inflamação na pele é porque os mastócitos foram ativados sinergicamente por meio de duas vias."

Quando coçar faz bem

Mas há o outro lado da moeda.

Os mastócitos são culpados por uma série de condições inflamatórias da pele e reações alérgicas, mas também são importantes para proteger contra bactérias e outros patógenos. Assim, os pesquisadores se perguntaram se a ativação dos mastócitos induzida pelo coçar poderia afetar o microbioma da pele.

De fato, experimentos adicionais mostraram que coçar reduz a quantidade de Staphylococcus aureus, a bactéria mais comum envolvida em infecções de pele.

"A descoberta de que coçar melhora a defesa contra Staphylococcus aureus sugere que coçar pode ser benéfico em alguns contextos," disse Kaplan.

Qual é o balanço final?

Agora a equipe pretende fazer novos experimentos para ponderar os dois efeitos de coçar, o que atrapalha e o que ajuda. Mas eles já têm uma hipótese, ao menos em condições duradouras: "O dano que coçar causa à pele provavelmente supera esse benefício quando a coceira é crônica," arrisca Kaplan.

Assim, embora sejam necessárias mais pesquisas para ponderar os dois efeitos e ver se a hipótese dos pesquisadores está correta, se você tem uma reação alérgica ou uma condição crônica, é melhor não coçar.

A equipe também pretende estudar novas terapias para dermatite e outras doenças inflamatórias da pele, como rosácea e urticária, que suprimam a inflamação ao atingir receptores nos mastócitos.

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