22/03/2018

Medo e ansiedade podem estragar ganhos políticos de décadas

Redação do Diário da Saúde
Medo e ansiedade podem estragar ganhos políticos de décadas
A política do medo: Emoções negativas, como medo, ansiedade e raiva tiveram impacto significativo na guinada conservadora da política mundial em 2016. [Imagem: Martin Obschonka et al. - 10.1177/1948550618755874]

Emoções e política

As regiões onde os eleitores têm mais características de personalidade neurótica são mais propensas a votar em propostas conservadoras, como ocorreu na eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e na campanha de Brexit, em que o Reino Unido optou por deixar a longamente sonhada União Europeia.

Ao contrário das eleições anteriores, o medo e a preocupação desempenharam um papel forte nos dois casos.

Isto é uma mudança importante na forma como os especialistas tipicamente associam os traços de personalidade com o comportamento político, concluíram o Dr. Martin Obschonka e sua equipe da Universidade de Tecnologia de Queensland (Austrália).

Essa nova tendência pode ajudar a explicar o surgimento das terríveis campanhas populistas que estão voltando a surgir em todo o mundo como ervas daninhas e gerando polarizações extremadas na política.

Cinco Grandes da personalidade

Os psicólogos aceitam há tempos que as atitudes políticas estão associadas aos traços de personalidade conhecidos como "Cinco Grandes": Neuroticismo ou Instabilidade Emocional, Extroversão, Agradabilidade, Consciencialidade e Abertura para a Experiência. Por exemplo, estudos anteriores mostram que uma baixa abertura à experiência e uma alta consciencialidade estão relacionadas ao conservadorismo.

Ocorre que, em 2016, as duas campanhas - Trump e Brexit - construídas sobre temas populistas de medo, perda de orgulho e aversão a perdas despertaram características de personalidade que anteriormente não pareciam influenciar nas posturas políticas, particularmente ansiedade, raiva e medo - todos os quais são aspectos da característica do Neuroticismo, o primeiro dos Cinco Grandes.

"Os modelos tradicionalmente utilizados para prever e explicar o comportamento político não capturaram um fator essencial que influenciou as decisões de voto das pessoas em 2016," disse o Dr. Martin Obschonka. "Nós propomos uma espécie de 'efeito dorminhoco': sob condições normais, essas características não têm influência, mas, em determinadas circunstâncias, a ansiedade generalizada e o medo em uma região têm o potencial de impactar profundamente a paisagem geopolítica."

E, infelizmente, impactam negativamente, no sentido oposto ao de ganhos longamente conquistadas pela sociedade - paradoxalmente, a sociedade abre mão de suas conquistas porque lhes é dito que eles podem perder essas conquistas.

Psicologia e política

Usando dados de personalidade de 417.217 britânicos e de 3.167.041 norte-americanos, os pesquisadores testaram níveis regionais de medo, ansiedade e raiva, comparando-os com os traços historicamente correlacionados com a orientação política (abertura e consciencialidade) para medir o vínculo entre o clima psicológico regional e o comportamento da votação em 2016.

Os dados mostraram correlações entre níveis mais altos de ansiedade e medo em uma região e os votos para o Brexit e Trump, e uma influência ainda mais forte dessas características ao considerar os ganhos de Trump desde as eleições de 2012, quando outro republicano, Mitt Romney, perdeu a eleição. Os 50 municípios dos EUA com os maiores níveis de medo e ansiedade mostraram um aumento de 9%, em média, nos votos republicanos de 2012 a 2016; enquanto os 50 municípios com níveis mais baixos de medo e ansiedade mostraram uma mudança de apenas 2%. Da mesma forma, os distritos britânicos com os mais altos níveis de medo e ansiedade apresentaram uma média de apoio de 60% para o Brexit, com os 50 distritos com menos medo e ansiedade rejeitando o Brexit, com 46% de votos.

"Esta descoberta dá suporte à nossa suspeita inicial de que as regiões com níveis mais altos em neuroticismo são particularmente receptivas a campanhas políticas que enfatizam o perigo e a perda, e que as campanhas anteriores não utilizaram esses temas tão fortemente como vimos em 2016," disse Sam Gosling, coautor do estudo.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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