21/08/2008

Intuição é explicada cientificamente, revalorizando o conhecimento prático

Anika Agebjörn

Intuição como forma de se adquirir conhecimento

A intuição, ou conhecimento tácito, é difícil de se medir, por isso ela é freqüentemente denegrida. Uma nova pesquisa feita na Linköping University, na Suécia, mostra que há uma explicação neurobiológica para a criação do conhecimento baseado na experiência.

Lars-Erik Björklund utiliza várias declarações de pessoas bem conhecidas para ilustrar o significado de intuição, conhecimento tácito, conhecimento prático ou sabedoria prática. A intuição se baseia na experiência e é algo que os especialistas em muitas áreas adquirem.

Melhores julgamentos vêm com a experiência

"Em estudos com enfermeiras nos anos 1980, foi demonstrado que aquelas que tinham mais tempo de profissão tinham maior compreensão dos problemas e faziam melhores julgamentos mais rapidamente. Isto foi chamado de habilidade intuitiva," diz Lars-Erik Björklund, que dedicou sua tese para revisar pesquisas em vários campos do conhecimento envolvendo a intuição.

Nos anos 1990, estudos similares foram feitos com médicos e homens de negócios, com resultados similares. O fato de que as pessoas com maior experiência são freqüentemente melhores no que fazem, que a prática aperfeiçoa, não é algo novo. Mas nenhuma boa explicação foi dada até agora sobre porque isto acontece.

Impressões sensoriais conscientes e inconscientes

Há alguns anos, neurocientistas descobriram que o cérebro humano tem sistemas duplos para receber e analisar as impressões sensoriais, um consciente e outro inconsciente.

No inconsciente, o sistema não-declarativo, nossas impressões sensoriais são comparadas com imagens armazenadas anteriormente. Todos nós temos um livro de fotografias interno que armazena nossas experiências, baseado no que nos aconteceu previamente na vida. Nós também lembramos os resultados - isto acabou bem ou mal?

Com a ajuda dessas impressões sensoriais armazenadas, nós inconscientemente avaliamos a situação com a qual nos defrontamos e podemos predizer seu desenrolar. Esta capacidade é especialmente útil em situações complexas e ricas em informações com uma grande quantidade de ruído associado.

Quanto mais variações de uma situação nós já tenhamos experimentado, mais rico será nosso livro de fotografias e mais provável será que reconheceremos a situação com a qual estamos lidando.

"Pode ser uma questão de cheiros, gestos, uma inefável combinação de impressões que faz com que o que nós chamamos intuição nos diga algo," diz Björklund. "Nós temos uma memória que precisa ser preenchida com impressões sensoriais."

Experiência prática

Entretanto, essas memórias são armazenadas somente se elas nos afetam. Em outras palavras, para que adquiramos experiência, deve haver comprometimento nosso com o fato.

Isto significa, de acordo com Björklund, que nós nunca poderemos aprender ou calcular nossa rota para todo o conhecimento e habilidades que precisaremos em nossa vida profissional. A experiência prática é indispensável e precisa ser reavaliada.

Um professor sem formação acadêmica com dez anos de experiência na profissão pode ser um professor muito melhor, assumindo que esta pessoa seja comprometida com seu trabalho, do que um professor recém formado, não importando o quão conhecedor ele ou ela é em termos do assunto da matéria.

Precisamos experimentar com nossos sentidos

Ele também argumenta que atividades envolvendo a prática e trabalhos de laboratório devem ser expandidos, e não reduzidos, em programas profissionais para engenheiros, professores e médicos. "Nós precisamos ver, sentir, cheirar, ouvir, saborear e experimentar com nossos sentidos. Essa coleção de informações não pode ser substituída pelo estudo dos livros-texto," escreve ele em sua pesquisa.

"A experiência é subavaliada hoje, e isto talvez aconteça porque nós não tínhamos entendido esse tipo de conhecimento tácito. Agora nós sabemos, graças ao pesquisadores do cérebro."

"[As pessoas mais experientes] podem não ter tanta energia quanto um jovem recém formado, mas têm uma habilidade superior para ver e julgar o que deve e o que não deve ser feito," escreve ele em sua conclusão.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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