25/05/2022 Experiências de dissolução do eu devem ser levadas a sério, dizem pesquisadoresRedação do Diário da Saúde
A meditação pode desencadear uma experiência que "dissolve" o eu.[Imagem: RUB/Kramer]
Dissolução do eu A meditação - ou o uso de algumas substâncias psicoativas - pode desencadear uma experiência na qual o eu (ego, self) se dissolve e não está mais presente. A literatura espiritual coloca inúmeros nomes nessa experiência, que é considerada como uma etapa importante para os meditadores mais experientes, permitindo-os observar não apenas o mundo, mas também a si mesmos. Os filósofos Raphael Millière (Universidade de Columbia - EUA) e Albert Newen (Universidade de Ruhr-Bochum - Alemanha) queriam entender melhor este fenômeno, tentando ver se essa dissolução do ego não poderia ser uma descrição a posteriori do estado mental. Em outras palavras: "Será que a memória dessa dissolução do eu não seria melhor interpretada como uma reconstrução em retrospecto, que estaria julgando mal a experiência original?" Eles concluíram que é possível alegar essa dissolução do eu como efeito de memória quando você está estudando os outros - mas a coisa aparece muito clara quando o próprio pesquisador consegue fazer a experiência. "Sem essas experiências, não podemos imaginar o que significa quando o eu se dissolve," disse Newen. Outra equipe garante ter encontrado no cérebro o lar das experiências espirituais. [Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay] Memória sem sujeito Em nossa consciência cotidiana, o eu está sempre presente. Quando você pega a chave do carro, sente implicitamente que é o agente e que é seu próprio braço que faz o movimento. Quando você olha para algo, você se sente no centro da perspectiva visual. Indivíduos com deficiências neurológicas, por exemplo como resultado de acidentes vasculares cerebrais, comumente apresentam facetas prejudicadas dessa autopercepção. "Além disso, sabe-se que o processamento neural muda consideravelmente durante a meditação," justificam Newen e Millière. "Do mesmo modo, devemos reconhecer que existem experiências que carecem de qualquer faceta do eu." Mas, mesmo assim, permanece a dúvida de como as pessoas podem se lembrar desses estados. "Se uma pessoa descreve uma memória de uma experiência sem o ego, ela está em um estado de autoconsciência enquanto lembra - e como ela se lembra de um episódio se ela não estava consciente de si mesma durante a experiência original?" justifica Newen. Explicação baseada no modelo de memória Os pesquisadores usaram então um modelo de memória que eles próprios desenvolveram, que se baseia na suposição de que as pessoas constroem um cenário quando se lembram. O processo começa com a ativação de um traço de memória no qual as partes centrais da experiência são armazenadas. O traço de memória é então enriquecido com conhecimento prévio, resultando na construção de uma memória vívida de um evento vivenciado. Além disso, as pessoas costumam acrescentar duas autofacetas na construção: Registram que são elas mesmas que estão envolvidas na cena e que a memória é sua - os pesquisadores falam de autoenvolvimento e autoatribuição (mineness) da memória. Newen e Millière argumentam que o autoenvolvimento e a autoatribuição devem, no entanto, ser aspectos separados. Isso porque alguns pacientes descrevem ter-se envolvido em um episódio ("Lembro-me da cena em que fiz algo") sem sentir a memória como pertencente a eles mesmos - falta a autoatribuição da memória. As duas autofacetas adicionadas na construção podem estar ausentes da memória original, só emergindo durante o processo de construção. Mesmo que a experiência original não contivesse nenhuma faceta do self e fosse depositada no traço de memória sem tais facetas, facetas do self ainda podem ser incluídas na construção. Consequentemente, o "paradoxo da memória sem eu" não descarta a experiência sem um eu presente, de modo que memórias de experiências de dissolução do ego e os relatos de tais experiências devem ser levados a sério, concluíram eles. Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br URL: https://diariodasaude.com.br/print.php?article=experiencias-dissolucao-eu-devem-levadas-serio-dizem-pesquisadores A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos. |