08/01/2025 Estudos sobre implantar memórias falsas são questionadosRedação do Diário da Saúde
Parece que nossas memórias não são tão confiáveis quanto gostaríamos.[Imagem: Cdd20/Pixabay]
Implantar memórias Memórias falsas são muito mais difíceis de se implantar em um ser humano do que anteriormente alegado por pesquisadores do campo das neurociências e da criminalística, uma conclusão que vem se somar a uma lista de questionamentos da chamada "ciência forense", que ainda tem pouco de ciência. Um estudo de 1995, intitulado "Perdido no Supermercado", tem sido frequentemente citado em julgamentos criminais, especialmente aqueles que envolvem abusos sexuais cometidos há muito tempo. Foi um experimento de implantação de memória usado para pesquisar se eventos que nunca aconteceram - como ter-se perdido em um supermercado quando criança - poderiam ser implantados por meio de sugestões. A defesa de Harvey Weinstein usou esse estudo como argumento para tentar lançar dúvidas sobre a memória dos seus acusadores. Weinstein foi um dos homens mais poderosos de Hollywood, cuja carreira desmoronou após denúncias de assédio e abuso sexual, pelas quais foi condenado. O caso de Harvey Weinstein foi um dos gatilhos para o surgimento do movimento #MeToo, que incentivou pessoas do mundo todo a denunciarem casos de assédio e abuso sexual. Aquele famoso estudo sugeriu que é fácil implantar memórias falsas para um evento falso que nunca aconteceu - no experimento, os cientistas concluíram que 25% dos 24 participantes se lembravam erroneamente de terem se perdido em um supermercado aos cinco anos de idade. Uma tentativa de reproduzir o estudo, utilizando os mesmos métodos e uma amostra maior de 123 pessoas, chegou a conclusões ainda mais fortes, afirmando ter encontrado mais memórias falsas (35%) do que o estudo original. A Justiça usa testes psicológicos sem verificar sua validade científica. Outro exemplo: Os detectores de mentiras só ajudam mentirosos a mentir melhor. [Imagem: Alexas_Fotos/Pixabay] Erro de análise No entanto, uma nova análise dos dados de 2023, feita por outra equipe, está levantando sérias questões sobre aquelas conclusões. Bernice Andrews e Chris Brewin, do Colégio Universitário de Londres (Reino Unido), mostraram que nenhum dos participantes incluídos nos 35% considerados como tendo uma memória falsa relatou uma memória totalmente falsa, e muitos nem sequer se lembravam de terem ficado perdidos. De acordo com a nova análise, metade dos que foram considerados com falsas memórias tinham de fato se perdido dos pais na infância, e muito provavelmente estavam relatando eventos reais, ainda que em um momento ou lugar diferente. Adicionalmente, outros participantes estavam tão inseguros sobre os detalhes sugeridos na história falsa que o seu testemunho teria sido de pouco valor em um tribunal, por exemplo. "Os resultados destacam os perigos de aplicar os resultados da investigação laboratorial ao mundo real das testemunhas no tribunal. As pessoas nestes estudos são cautelosas naquilo que afirmam lembrar e parecem ser muito menos propensas do que os cientistas a concordar que tinham uma memória falsa. Os especialistas precisam ter muito cuidado na forma como apresentam os resultados de sua pesquisa para não enganar o sistema judicial," disse o professor Brewin. A quem devemos ouvir quando falamos em "Ouvir a Ciência"? [Imagem: David Parkins/Nature/Divulgação] Interpretação falsa Como parte da análise, os pesquisadores se concentraram em seis detalhes principais do evento falso, incluindo: Estar perdido; choro; ser ajudado por uma idosa; estar reunido com sua família; o local do evento; a hora do evento. Os participantes que foram considerados como tendo uma memória falsa, em média, recordavam um detalhe e meio com alguma confiança, e 30% não se lembravam de nenhum desses detalhes. Isto foi consistente com pesquisas anteriores de que os julgamentos dos pesquisadores sobre o que são falsas memórias muitas vezes não são apoiados pelas opiniões dos próprios participantes dos estudos. "Esta é a primeira vez que os dados brutos de um estudo de implantação de memória falsa foram disponibilizados publicamente e submetidos a um escrutínio independente," concluiu Berenice Andrews. Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br URL: https://diariodasaude.com.br/print.php?article=estudos-sobre-implantar-memorias-falsas-questionados A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos. |