09/03/2009

Esquistossomose: conhecimento é condensado em livro

Edmilson Silva
Esquistossomose: conhecimento é condensado em livro
[Imagem: Fiocruz/Divulgação]

Livro sobre esquistossomose

A bibliografia sobre a doença infecciosa que atinge 200 milhões de pessoas no mundo, acaba de ganhar seu mais completo tomo: Schistosoma mansoni & esquistossomose - Uma visão multidisciplinar.

Fruto da organização de Omar dos Santos Carvalho, Paulo Marcos Zech Coelho e Henrique Leonel Lenzi, o livro da Editora Fiocruz celebra o centenário da descoberta do Schistosoma mansoni no Brasil, em 1908, por Manoel Augusto Pirajá da Silva. O livro contém um presente para os leitores, a reprodução da primeira descrição do parasito, publicada pelo periódico Brasil-Médico.

Uma necessidade e um sonho

Inequívoco, o ex-presidente da Fiocruz, Paulo Buss, assegura no prefácio que o livro "é fruto de uma necessidade e de um sonho" e explica porque. Para a parte do sonho, justifica que é "por reunir o esforço de pesquisadores e professores brasileiros das mais diversas áreas e especialidades e de entregar à sociedade uma obra definitiva sobre esquistossomose. Sonho alcançado".

Segundo Buss, o livro vem enriquecer a ciência brasileira e ajudar a tantos cientistas, clínicos, epidemiologistas e sanitaristas "que dão o melhor de si, todos os dias, para ajudar seus patrícios a superar as doenças do subdesenvolvimento, decorrentes das iniqüidades sociossanitárias em que ainda estamos submergidos".

Da história à genética

Com artigos de 78 autores, sendo 43 deles pesquisadores da Fundação, dentre os quais Constança Simões Barbosa, Delir Corrêa, Virginia Schall, Lobato Paraense, Naftale Katz e Zilton Andrade, em suas 1.124 páginas o 11º livro da série Esquistossomose do Programa Integrado de Esquistossomose (Pide/Fiocruz), em seus 35 capítulos, abrange todo o temário sobre a doença.

Desde o histórico, morfologia e sistemática dos caramujos do gênero Biomphalaria (glabrata, straminea e tenagophila), transmissores do verme, até a genômica e biologia molecular do Schistosoma mansoni, sem deixar de lado os aspectos relacionados ao tratamento, diagnóstico e epidemiologia da doença. Não ficaram de fora os esforços que vem sendo empreendidos para se desenvolver uma vacina contra essa doença endêmica no Brasil.

Schistosoma mansoni

Espécie de "estrela" do livro, o Schistosoma mansoni é esquadrinhado tintim por tintim pelos cientistas. No capítulo Sistema neuromuscular e controle da motilidade no verme adulto, François Noël reivindica a necessidade da criação de novos fármacos esquitossomicidas e, citando Trouiller e companheiros, informa que a descoberta e o desenvolvimento da maioria dos medicamentos utilizados no tratamento das doenças tropicais foi incentivado pelas conveniências coloniais, durante a primeira parte do século 20. À medida que os interesses ocidentais se afastaram das regiões tropicais, as doenças próprias dos trópicos foram progressivamente negligenciadas, principalmente porque não ofereciam retorno financeiro suficiente para que a indústria farmacêutica investisse em pesquisa e desenvolvimento, diz Noel.

Participação do setor público

Dessa forma, continua Noël, apenas 1% dos 1.393 novos fármacos aprovados entre 1975 e 1999 tratam especificamente de doenças tropicais e todos foram desenvolvidos com participação do setor público, razão pela qual essas patologias continuam adoecendo e matando de forma significativa nos países em desenvolvimento, embora tenha avançado o conhecimento básico sobre as doenças tropicais.

A não criação de fármacos eficazes contra as doenças tropicais teria motivado a organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras a alertar para a necessidade da tomada de novas iniciativas que envolvessem governos, instituições de pesquisa e unidades de produção dos países diretamente interessados, a exemplo do DNDi, sigla em inglês para Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas , criado oficialmente em 2003, de modo a enfrentar o problema. Oxamniquine e Praziquantel são as drogas que a indústria farmacêutica desenvolveu e que têm sido usadas, desde os anos 80, contra a doença que, em 17 anos - entre 1990 e 2007 - matou quase 10 mil brasileiros.

Doença prioritária

A Organização Mundial da Saúde (OMS) deu o primeiro passo, ao incluir a esquistossomose em sua lista das dez doenças parasitárias prioritárias e destacando a necessidade de pesquisa de novos fármacos. Como a estratégia de desenho de novas moléculas ativas fundamenta-se no conhecimento do processo fisiopatológico e na conseqüente eleição do alvo terapêutico mais adequado, as informações contidas no livro - obra que é fruto também do Pide - configuram valiosa contribuição para tanto. "È importante para o Brasil, onde há quase cem anos foram descritos os primeiros casos de esquistossomose, que não seja necessário esperar mais um século para se considerar a doença uma endemia controlada", opina Naftale Katz, no capítulo Terapêutica clínica na esquistossomose mansoni.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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