14/10/2008

Erros médicos - Como os próprios médicos discutem este assunto?

Becky Soglin
Erros médicos - Como os próprios médicos discutem este assunto?
Dr. Lauris C. Kaldjian[Imagem: UIowa]

Aprendendo com os erros médicos

Nós podemos aprender com nossos erros, mas quão abertos nós estamos para falar deles? E o que acontece quando quem está cometendo esses erros são médicos, dos quais freqüentemente se espera que sejam infalíveis?

Uma nova pesquisa, feita na Universidade de Iowa (Estados Unidos), demonstrou que a maioria dos médicos que dão aulas nos hospitais universitários estão abertos para discutir com seus colegas os erros que cometeram em seus tratos com os pacientes, mas cerca de um em cada quatro afirma não ter vontade de fazer isto.

Ao mesmo tempo, quase 9 em cada 10 médicos afirmaram que, se eles quisessem falar sobre um erro, eles conhecem um colega que seria um ouvinte que lhe daria apoio. As descobertas foram publicadas no exemplo de Outubro do Journal of Medical Ethics.

Um erro, muitos aprendizes

Os resultados sugerem que é importante garantir que o aprendizado com os erros ocorra não apenas para a pessoa que cometeu o erro, mas também entre seus pares, afirma o coordenador do estudo, Dr. Lauris Kaldjian.

"Discutir erros médicos pode ser uma forma de aprendizado profissional para os médicos. Erros devem ser consideradas mercadorias intercambiáveis e usadas por todos para os quais elas têm valor," diz Kaldjian. "As descobertas também apontam para alguns desafios para os médicos que procuram suporte emocional depois de cometer um erro."

Comunicação de erros médicos

Os resultados das pesquisas foram baseados em entrevistas com 338 médicos professores ou residentes em escolas de Medicina nos Estados Unidos. Descobertas publicadas anteriormente por Kaldjian e seus colegas, baseadas no mesmo conjunto de dados, mostraram que a comunicação efetiva de erros médicos para os hospitais e os pacientes parecem ocorrer em menor quantidade do que deveria quando comparada com as atitudes positivas demonstradas quando se fala sobre a comunicação de tais erros.

Os dois estudos anteriores também descobriram que, quanto mais sérias as conseqüências ou danos gerados por um erro hipotético, mais os médicos afirmam que iriam comunicá-lo aos pacientes ou ao hospital. Da mesma forma, o atual estudo utilizou cenários hipotéticos para revelar uma predisposição de 77% dos médicos em discutir um erro que não resulte em danos, 87% se o erro provocar danos de pequeno impacto, e 94% se o erro resultar em conseqüências graves.

Erros médicos como uma ferramenta valiosa de aprendizado

Kaldjian apontou que há muitos ganhos em se compartilhar todos os erros. "Algumas vezes você pode cometer um erro e nada acontece. Outras vezes, acontece alguma coisa ruim," diz ele. "Mas, nos dois casos, nós precisamos focar no erro porque 'quase-erros' - onde nenhum dano é causado - são também ferramentas valiosas de aprendizado."

Os tipos mais graves de erros acionam mecanismos institucionais automáticos de apuração. Entretanto, outros erros podem não fazer o mesmo. "Além de ajudar a melhorar o tratamento dos pacientes, discutir os dois tipos de erros médicos pode fornecer oportunidades importantes para o aprendizado profissional e para o apoio emocional para os médicos," afirma Kaldjian. "Entretanto, o estilo formal no qual o aprendizado compartilhado ocorre dificilmente é um lugar ótimo para se dar o suporte individual que o médico que cometeu o erro necessita.

"Os médicos entram em um período de grande confusão quando cometem um erro mesmo se isto não tiver causado um grande dano para o paciente. Embora existam algumas equipes com configurações formais na profissão para aprender com os erros, o suporte emocional pode exigir privacidade e encorajamento que só se encontra em conversas um-para-um com colegas de confiança," acrescenta ele.

Discutindo erros médicos com estudantes

Mais da metade dos médicos no estudo (57%) afirmaram já ter tentado ao menos uma vez promover o valor de se discutir erros discutindo um dos seus próprios erros na frente de estudantes ou médicos em treinamento.

"É encorajador que os médicos tentem servir de modelo, especialmente para estudantes de Medicina e médicos jovens, e alguns hospitais têm até mesmo equipes de suporte para ajudar médicos imediatamente depois de um erro, embora essas equipes pareçam ser raras," diz Kaldjian.

"Meu maior crítico"

Kaldjian também percebeu que os médicos que se consideram como sendo "seus piores críticos", e não discutem seus erros com outros, perdem perspectivas adicionais importantes.

"Há sabedoria e conforto nas palavras de nossos colegas, especialmente quando nós temos razões para acreditar em seus conselhos," diz ele. "A ciência médica também encoraja a assumir uma atitude investigativa sobre os erros e pode nos motivar a ser tão objetivos quanto seja possível com relação aos erros e suas circunstâncias sem deixar de lado a profunda necessidade de suporte emocional."

De forma geral, diz o pesquisador, uma maior discussão dos erros entre os profissionais médicos é extremamente importante para o aprendizado profissional e para o apoio emocional. Estas discussões também podem ajudar os médicos a se encorajar mutuamente para comunicar os erros aos pacientes como parte do próprio cuidado com o paciente e relatá-las às instituições como uma forma de melhorar a segurança dos pacientes.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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