16/05/2023

Ditadores e poderosos em geral usam religião para justificar seu poder

Redação do Diário da Saúde
Ditadores e poderosos em geral usam religião para justificar seu poder
O problema não é com a religião em si, mas com o uso que os poderosos fazem dela.[Imagem: Mohamed Hassan/Pixabay]

Poder e religião

Praticamente todos os países do mundo eram governados por teocracias - ou tinham a religião como elemento central do poder - até três séculos atrás.

Com o advento da chamada "Idade da Razão", os pensadores, filósofos e cientistas rapidamente apregoaram que essa época havia chegado finalmente ao fim.

Mas não é o que mostra a realidade: A religião continua a ser usada para legitimar a política em muitas sociedades, incluindo algumas das mais avançadas econômica e educacionalmente. E, como ocorreu no passado, essa ingerência está longe de apontar no rumo da igualdade dos seres humanos, apregoada por todas as religiões.

"Sociedades que são historicamente caracterizadas pela crença em deuses superiores são mais propensas a ter leis atuais que discriminam ou favorecem certos grupos da sociedade," afirma a professora Jeanet Bentzen, da Universidade de Copenhague (Dinamarca). "Podem ser leis que restringem os direitos das mulheres ou proíbem a homossexualidade. Ou leis sobre blasfêmia e privilégios para organizações religiosas."

Religião e desigualdade andam de mãos dadas

Para aferir a questão na atualidade e medir as consequências da ingerência da religião na política, Bentzen e seu colega Gunes Gokmen decidiram fazer uma análise profunda, coletando dados sobre religiões em 1.265 sociedades pré-modernas e comparando essas informações com dados atuais sobre a prevalência de leis religiosas em 176 países.

"A riqueza de informações permite comparar sociedades que pertencem ao mesmo grupo linguístico, têm o mesmo nível de complexidade, modo de subsistência e nível de desenvolvimento - e estão localizadas no mesmo continente," explicou Bentzen.

E, mesmo entre essas sociedades, semelhantes em todos os parâmetros, a desigualdade pode ser muito maior em uma sociedade balizada religiosamente do que em outra que não segue os mesmos princípios.

"Fica claro a partir dos dados que as sociedades com maior desigualdade social são mais propensas a adorar deuses aos quais é atribuído um caráter dominante. Em média, deuses moralizadores têm 30% mais chances de estarem presentes em sociedades com grandes diferenças de classe, em comparação com as sociedades mais igualitárias," disse Bentzen.

Uso político da religião

Os pesquisadores fizeram outra descoberta importante: Nas autocracias, onde o poder está concentrado nas mãos de uma única pessoa ou de um grupo muito pequeno de pessoas, há uma clara tendência à institucionalização da religião. É comum que um autocrata legitime seu poder referindo-se ao divino.

"A legitimação divina da concentração de poder em um grupo muito pequeno de pessoas pode muito bem dar suporte à persistência da autocracia porque o pequeno grupo de governantes recebe de cima seu mandato para exercer o poder e, portanto, não precisa pedir ao povo. Assim, o mandato religioso do autocrata se opõe à democratização," disse a pesquisadora.

Os pesquisadores destacam que a religião e as políticas populistas estão ganhando apoio em muitas sociedades. Por esta razão, eles argumentam, é cada vez mais importante entender as raízes dessas tendências.

"A religião é muitas coisas. Enquanto para alguns é um conjunto de crenças que fornecem conforto e força pessoal, para os legisladores pode ser uma ferramenta para obter poder incontestável," concluiu Bentzen.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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