09/02/2022

Cientistas têm maior credibilidade que gurus espirituais?

Redação do Diário da Saúde
Cientistas têm maior credibilidade que gurus espirituais?
Para alguns cientistas não envolvidos na pesquisa, os efeitos não são tão significativos para justificarem a criação de um "Efeito Einstein".[Imagem: Suzanne Hoogeveen et al. - 10.1038/s41562-021-01273-8]

Efeito Einstein

Cientistas fizeram um experimento em larga escala para testar se a fonte de uma informação teria efeito na sua credibilidade.

Eles concluíram que os cientistas têm mais autoridade junto à população em geral do que as fontes espirituais.

As diferenças não são gritantes e nem foram encontradas em todos os grupos populacionais, mas, na amostra envolvendo mais de 10.000 indivíduos de 24 países, apareceu um ligeiro efeito de maior credibilidade dos cientistas quando se considera aqueles que consideraram as afirmações utilizadas na pesquisa como críveis.

Um dos problemas da abordagem usada pela equipe é que as afirmações utilizadas na pesquisa não eram críveis. No experimento, os pesquisadores apresentaram aos voluntários duas alegações absurdas, sem sentido, uma sendo atribuída a um cientista e a outra a um guru espiritual.

"Em nossa pesquisa, analisamos a influência que a fonte da informação tem em sua credibilidade, independentemente do conteúdo da informação em si. Fizemos isso com um experimento simples, usando alegações sem sentido," disse a professora Suzanne Hoogeveen, da Universidade de Amsterdã (Países Baixos), que liderou o estudo. O professor André Rabelo, da Universidade de Brasília, faz parte da equipe internacional responsável pelo experimento.

Os pesquisadores apresentaram aos 10.195 voluntários as duas declarações sem sentido abaixo:

  • "Somos chamados a explorar o próprio cosmos como uma interface entre a fé e a empatia. Devemos aprender a levar uma vida autêntica diante da ilusão. É no refinamento que somos guiados."
  • "Sim, é possível exterminar as coisas que podem nos confrontar, mas não sem esperança do nosso lado. A turbulência nasce no hiato quando a transformação foi excluída. É na evolução que somos reenergizados."

Diferenças interculturais

Os voluntários que se autodeclararam religiosos acharam as palavras atribuídas a um guru espiritual relativamente mais críveis do que os participantes não religiosos, com diferenças mais marcantes em alguns países.

Entre os participantes não seguidores de uma religião formal, o efeito encontrado foi universal, mas também com diferenças de intensidade entre os países. Por exemplo, os participantes holandeses foram os mais céticos sobre as duas alegações. A diferença entre a credibilidade do cientista e do guru foi maior na Turquia e menor na Índia, China e Japão.

"Pode ser que o efeito relativamente menor no Sudeste Asiático seja porque o guru espiritual, conforme apresentado no estudo, está mais alinhado com os sistemas de crenças orientais do que com as tradições cristãs mais ocidentais," comentou Hoogeveen. "No entanto, com base em nossos dados, não podemos fazer declarações firmes sobre isso."

"Nossos resultados sugerem que, independentemente da visão de mundo, a ciência é vista mundialmente como um poderoso indicador da confiabilidade da informação. Nestes tempos em que se fala muito sobre ceticismo em relação, por exemplo, às mudanças climáticas e às vacinas, espero que isso seja tranquilizador," finalizou a pesquisadora.

Críticas e defesas

Logo após a publicação do artigo, alguns cientistas não envolvidos na pesquisa apresentaram críticas em relação à estrutura do experimento.

A principal crítica é que apresentar afirmações que as pessoas não entendem - não há como entender frases sem conteúdo - impede que as pessoas façam uma avaliação crítica, contrapondo a afirmação com seu próprio conhecimento. Embora pareça que isso isole o papel da autoridade de quem falou, na verdade o resultado pode estar apenas reproduzindo o viés natural de uma sociedade na qual o secularismo vem ocupando uma posição maior do que a religiosidade formal.

Outra crítica é que os resultados não seriam tão significativos quanto a equipe desenha, com um coeficiente de correlação de postos de Spearman de 0,772 para a fonte científica e de 0,827 para a fonte espiritual. Finalmente, o termo "guru espiritual" pode ter significados muito diferentes nos diversos contextos pesquisados.

E, curiosamente, os cientistas que fizeram a pesquisa tentaram dar mais ênfase a suas conclusões lançando mão da autoridade de um "guru da ciência", Albert Einstein - eles batizaram o alegado fenômeno de "Efeito Einstein".

"Nós apelidamos isso de 'efeito Einstein'; as pessoas simplesmente aceitam que E = mc2 e que os antibióticos podem ajudar a curar a pneumonia porque autoridades confiáveis, como Einstein e seu médico, dizem isso, sem realmente entender o que essas declarações realmente implicam," defendem-se eles.

Ponderando tudo, talvez a pesquisa não seja tão "tranquilizadora" quanto a professora Hoogeveen alega, sobretudo quando se tem em conta a preocupação em diminuir a disseminação de teorias da conspiração e de notícias não fundamentadas entre a população. Acreditar que um problema não existe ou que está resolvido pode ser o caminho para que o problema se alastre. E evitar isto exigirá dos cientistas mais do que tentar criar um novo "efeito" para lançar em seus currículos.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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