07/07/2021

Bebês podem ver coisas que os adultos não conseguem

Redação do Diário da Saúde
Bebês podem ver coisas que os adultos não conseguem
Crianças menores de 7 meses podem perceber objetos que crianças mais velhas e adultos não podem ver.[Imagem: Chuo University/LAIMAN]

Ciência da visão

A visão geral dos cientistas é a de que nós nascemos com os sentidos todos funcionais, mas ainda imaturos, e que esses sentidos vão melhorando à medida que crescemos e precisamos mais deles.

Mas não foi bem isso o que Yusuke Nakashima e colegas da Universidade Chuo de Tóquio (Japão) observam quando se dispuseram a estudar a visão dos bebês.

Os bebês geralmente têm mais dificuldade em ver e reconhecer objetos do que os adultos, o que tem sido explicado justamente por essas alegadas habilidades visuais imaturas.

No entanto, durante os experimentos, bebês menores de 7 meses conseguiram perceber objetos que bebês mais velhos e adultos simplesmente não conseguem ver.

Este resultado surpreendente indica que pode haver mecanismos diferentes de percepção visual entre bebês e adultos, e não meramente uma sequência de imaturo (menos capaz) para maduro (mais capaz).

Máscara visual retrógrada

Nós somos bons em reconhecer objetos já vistos, mesmo que eles nos sejam apresentados por um breve período. No entanto, se outro objeto aparece imediatamente após o primeiro, a percepção sobre aquele primeiro objeto é prejudicada de tal forma que nem mesmo notamos sua existência.

Este fenômeno perceptivo, denominado "máscara visual retrógrada" (retroativa e reversa também são termos usados), é usado na ciência da visão para estudar como a percepção visual é processada no cérebro. Curiosamente, esse fenômeno ocorre mesmo se o segundo objeto não se sobrepõe espacialmente ao primeiro objeto, como um contorno ou quatro pontos ao redor do objeto.

Os cientistas supõem que a ocorrência desse fenômeno seja devida a uma interrupção do "processamento de feedback". Quando vemos algo, a informação visual é processada em série, indo das áreas visuais inferiores para as superiores no cérebro, de uma maneira ascendente. No entanto, o processamento de feedback de cima para baixo, no qual os sinais visuais são enviados de volta das áreas superiores para as inferiores, também desempenha um papel crítico na percepção visual. Acredita-se que o mascaramento retroativo visual ocorra devido a interferências nessas idas e vindas do processamento de feedback.

"Nós aplicamos o mascaramento reverso em bebês de 3 a 8 meses para examinar o desenvolvimento do processamento de feedback," explica o professor Yusuke Nakashima.

Enxerga, e então não enxerga mais

Para testar se o mascaramento retrógrado ocorre em bebês, os pesquisadores apresentavam imagens de rostos em uma tela de computador e mediam o tempo que os bebês passavam olhando para eles - como os bebês tendem a olhar para os rostos por mais tempo, os pesquisadores podem testar se eles percebem os rostos medindo o tempo do olhar.

Os rostos foram apresentados de duas maneiras: Em uma condição, um rosto era seguido por uma imagem de máscara, na qual os bebês não veriam o rosto se o mascaramento ocorresse. Em outra condição, nada aparecia após o rosto; assim, os bebês seriam capazes de ver o rosto.

Os pesquisadores descobriram que os bebês de 7 a 8 meses não conseguem ver rostos seguidos pela máscara, indicando que ocorreu o mascaramento retrógrado, semelhante ao que acontece nos adultos. Por outro lado, os bebês de 3 a 6 meses conseguiram perceber os rostos mesmo quando eles eram seguidos pela imagem da máscara, indicando que o mascaramento não ocorreu e que bebês mais novos podiam ver rostos que bebês mais velhos não podiam.

"Estes resultados sugerem que o processamento de feedback é imaturo em bebês com menos de 7 meses," disse Nakashima. "Ou seja, bebês mais jovens não têm o processamento de feedback com o qual o mascaramento reverso poderia interferir e, portanto, o mascaramento é ineficaz para eles."

Isto demonstra que os mecanismos de percepção visual mudam drasticamente no primeiro ano de vida, principalmente que objetos que podem ser percebidos na primeira infância tornam-se imperceptíveis durante o desenvolvimento.

"Isso pode parecer contra-intuitivo," comentou a professora Masami Yamaguchi, "uma vez que o que se esperava é que habilidades visuais importantes fossem adquiridas pelo amadurecimento do indivíduo."

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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