06/12/2022

Aprovação controversa de medicamento para Alzheimer gera impacto surpreendente

Redação do Diário da Saúde
Aprovação controversa de medicamento para Alzheimer afasta voluntários de novos testes
As pesquisas sobre Alzheimer têm cada vez mais escapado da chamada "hipótese amiloide", que credita a doença às placas formadas no cérebro, mas que nunca gerou um medicamento eficaz. [Imagem: Tufts University]

Aducanumabe

Quando a Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) concedeu a controversa aprovação acelerada ao primeiro medicamento para Alzheimer em quase 20 anos, isso teve um impacto surpreendente nas atitudes em relação às pesquisas científicas da doença.

A aprovação envolveu o aducanumabe, da empresa Biogen, um fármaco voltado para tratar as placas amiloides que se verificam no cérebro dos pacientes em exames post mortem.

Acontece que a comunidade científica está se afastando cada vez mais da teoria sobre a ligação entre as placas amiloides e o Alzheimer, com estudos mais recentes apontando que as proteínas beta-amiloide podem ter efeito benéfico para o cérebro.

Uma pesquisa realizada por neurocientistas da Universidade da Califórnia de Irvine descobriu agora que a aprovação controversa, com vários médicos e cientistas contestando a decisão, tornou o público menos disposto a se voluntariar para testes farmacêuticos envolvendo novos medicamentos para Alzheimer.

"Qualquer coisa que diminui a credibilidade na pesquisa científica impede nosso progresso," disse o professor Joshua Grill, coordenador da pesquisa.

Controvérsia sobre o aducanumabe

O aducanumabe é um anticorpo monoclonal destinado a reduzir as placas de amiloides beta que se acumulam em pessoas com a doença.

Outro fármaco da mesma família, chamado solanezumab, da farmacêutica Eli Lilly, foi abandonado em 2016 depois de ter falhado nos testes.

As controvérsias começaram quando um painel de especialistas desaconselhou a aprovação do fármaco pela FDA, dizendo que a capacidade do aducanumabe de diminuir as placas não mostrou impacto na progressão clínica da doença. O controverso aval da agência e mais discordância sobre a rotulagem e o preço da droga atraíram a atenção da mídia.

Não quero participar disso

Os pesquisadores conduziram seu estudo entre pessoas de 50 a 79 anos que já haviam expresso vontade de participar de pesquisas sobre medicamentos contra Alzheimer. Duas semanas antes da decisão da FDA, a equipe perguntou aos candidatos a voluntários se eles estariam interessados em se inscrever em um estudo hipotético de quatro anos de um anticorpo monoclonal redutor de placas beta-amiloide e de um medicamento para prevenção dessas placas, conhecido como inibidor BACE.

Oito dias depois que a FDA deu luz verde ao aducanumabe, a equipe voltou a procurar os participantes, com as mesmas questões, mas acrescentando uma nova seção sobre o anticorpo monoclonal e sua aprovação.

Os participantes que não haviam tomado conhecimento da aprovação controversa não modificaram suas intenções de participação. Aqueles que haviam lido sobre a questão, contudo, mostraram-se menos propensos a participar de testes de medicamentos similares no futuro.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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