Ameaça real
Os robôs virtuais, ou bots, programas automatizados projetados para funcionarem como se fossem perfis reais nas mídias sociais, estão influenciando os debates políticos na internet e aumentando a polarização das discussões.
Esta é a conclusão do pesquisador Amaro Grassi, da Fundação Getúlio Vargas, cujo estudo mostra ainda que os efeitos são tão sérios que o processo de disputa política nos próximos anos pode estar ameaçado.
"Elemento flagrante é o 'inchamento' de movimentos políticos que são, na realidade, de dimensão bastante inferior. Somados, esses riscos e outros representados pelos robôs, são mais do que o suficiente para jogar luz sobre uma ameaça real à qualidade do debate público no Brasil e, consequentemente, do processo político e social definidor dos próximos anos", destaca Grassi.
Perfis falsos
Os bots são perfis falsos em mídias sociais, como o Facebook e o Twitter, que são capazes de distribuir mensagens pré-programadas em larga escala. Na disputa política, esse tipo de instrumento pode ser contratado em empresas especializadas para que um candidato, ou uma proposta, recebam milhares de mensagens de apoio, inflando artificialmente sua aceitação popular, e influenciando assim a percepção das pessoas.
O estudo aponta que perfis comandados por robôs chegaram a ser responsáveis por mais de 10% das interações no Twitter nas eleições presidenciais de 2014 - quase 20% das interações no debate entre os usuários favoráveis a Aécio Neves no segundo turno das eleições de 2014 foram motivadas por robôs. Já durante os protestos pelo impeachment da então presidenta da República Dilma Rousseff, as ações dessas contas falsas foram responsáveis por 20% das interações.
Para o pesquisador Amaro Grassi, ainda não é possível afirmar que a ação dos perfis falsos seria decisiva em uma eleição. No entanto, o uso desse tipo de ferramenta pode aumentar artificialmente a impressão de que determinada candidatura ou programa político possui mais apoio popular do que realmente tem.
"Qual que é o objetivo desse tipo de ação? É inflar um determinado posicionamento por interesses que podem ser os mais diversos. Pode ser um interesse por um assunto específico, pode ser o interesse por um um partido ou por uma narrativa," explica.
Posições radicais
Independentemente de quem ganha ou quem perde com os perfis falsos, Grassi ressalta que a ação dos robôs, por sua natureza impositiva e incapaz de ponderar sobre qualquer argumento, acaba degradando os debates políticos, transformando as discussões na internet em embates extremados, sem espaço para a construção de consensos.
"Por definição, não vai ser uma mensagem aberta ao diálogo, porque ela é uma mensagem propagada por um robô. Então, isso naturalmente se encaixa no contexto de mensagens que são mensagens de propaganda, mensagens mais afirmativas, que são de posicionamentos mais rígidos".
"Em termos de impacto, o que a gente consegue perceber com bastante clareza é que eles favorecem a polarização. O tipo de mensagem que eles [robôs] difundem acaba favorecendo posições mais radicais, e dificultando um debate mais sereno em torno das questões que estão colocadas em cada momento," explicou.
O estudo chama atenção também para o fato de que há robôs que operam no exterior e disseminam mensagens em território nacional. "Isso inclusive enseja a reflexão de manipulação não só interna, mas também para além dos campos políticos nacionais, sugerindo a hipótese da possibilidade de até mesmo outros atores, estranhos ao quadro nacional, operarem nas redes esses mecanismos", alertou o pesquisador.
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