Malária mais anemia
Eles têm apenas 10 cm de comprimento, mas podem mesmo ser o fator decisivo entre a vida e a morte se você contrair malária: Ao tomar as rédeas da reciclagem do ferro, os rins impedem que o corpo sucumba ao parasita invasor.
Foi o que descobriram pesquisadores do Instituto Gulbenkian de Ciência (Portugal), o que tem implicações importantes para o prognóstico dos doentes infectados e para o desenvolvimento de terapêuticas mais dirigidas, o que poderá ajudar a diminuir o número de mortes por malária.
As complicações mais graves e potencialmente letais da malária, como a insuficiência renal aguda, surgem quando o parasita Plasmodium, transmitido pela picada de mosquitos, invade os glóbulos vermelhos. À medida que o parasita se multiplica exponencialmente, ele destrói essas células e causa anemia, debilitando a saúde.
Em condições normais, são os macrófagos, células especializadas do sistema imunológico, que reciclam o ferro liberado dos glóbulos vermelhos deteriorados ou envelhecidos para formar novas células. Mas este sistema é facilmente saturado quando há uma destruição em massa, como na malária. Na incapacidade de repor os glóbulos vermelhos, o doente desenvolve anemia grave e fica em maior risco de morte.
Os pesquisadores portugueses descobriram que, quando ocorrem em simultâneo, a insuficiência renal aguda e a anemia criam uma sinergia que aumenta consideravelmente o risco de morte dos doentes.
Metabolismo do ferro nos rins
A descoberta do papel dos rins veio quando os pesquisadores estudaram o metabolismo do ferro em camundongos infectados com malária. A constatação de que os animais não excretavam ferro suficiente pela urina levou à descoberta das células do fígado que reabsorvem os ferro na urina, na tentativa de manter níveis adequados desse elemento essencial no corpo.
Ao tornar-se o principal órgão responsável pelo armazenamento e redistribuição do ferro na malária, os rins são determinantes para o desfecho da doença. Ao alterar geneticamente os animais para que eles não apresentassem a ferroportina, o gene que permite às células renais exportar o ferro, os animais desenvolveram anemia grave e morreram, um exemplo claro de como um simples mecanismo celular pode ter efeitos profundos em todo o corpo.
Ao restabelecer o circuito do ferro e o número de glóbulos vermelhos, os rins brecam a anemia, garantindo que os diferentes órgãos recebam oxigênio e continuem a funcionar. "Esta descoberta é uma clara demonstração de como o metabolismo de um hospedeiro infectado pode ser modificado para determinar o desfecho de uma doença infeciosa, neste caso a malária," disse o professor Miguel Soares, coordenador da equipe.
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