Ao analisar dados de entrevistas feitas com 5.037 moradores da Região Metropolitana de São Paulo, pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo identificaram de que forma fatores individuais, entre eles sexo, idade, condição socioeconômica e área de residência, influenciam no padrão de multimorbidade - termo que no jargão médico descreve a ocorrência concomitante de duas ou mais doenças crônicas em um mesmo indivíduo.
De acordo com os resultados, a ocorrência simultânea de enxaqueca e outros quadros dolorosos, transtornos de ansiedade, depressão e insônia foi cerca de duas vezes mais frequente entre as mulheres.
Já a associação entre artrite e doenças metabólicas, como as cardiovasculares e o diabetes, foi mais comum entre idosos e entre moradores de bairros com maior desigualdade de renda.
A ocorrência simultânea de problemas relacionados a drogas, álcool e tabaco foi mais frequente entre jovens, pessoas do sexo masculino e com maior poder econômico.
Já o grupo de doenças composto por câncer e quadros neurológicos, entre eles Alzheimer, não evidenciou relação com nenhum dos fatores individuais e contextuais investigados.
"Nossos resultados, assim como os de estudos internacionais, indicam que pessoas com duas ou mais doenças crônicas têm risco aumentado para desenvolver outros quadros crônicos associados. Quanto mais avançada é a idade e menor é o nível socioeconômico, maior é esse risco. E isso acaba criando clusters de morbidade físico-mental na população", disse Wang Yuan Pang, pesquisador do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e coordenador da pesquisa, ao lado de Laura Helena Andrade.
Medicina integrada
O objetivo inicial era estimar em uma área altamente urbanizada a prevalência de transtornos mentais. O número encontrado foi próximo a 30% - o mais alto registrado entre os 24 países que integraram a Pesquisa Mundial sobre Saúde Mental, da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os transtornos de ansiedade foram os mais comuns, afetando 19,9% dos entrevistados. Em seguida, destacam-se os transtornos de humor (11%), transtornos de controle de impulso (4,3%) e problemas relacionados ao uso de substâncias (3,6%). Cerca de 10% dos casos foram considerados graves. Desses, apenas 30% obtiveram acesso ao tratamento.
Os resultados mostraram também que as doenças cardiovasculares, os transtornos de ansiedade e a depressão foram as doenças que apresentaram maior associação com outras condições crônicas.
Na opinião dos pesquisadores, os dados apontam para a importância de reformular o treinamento médico de forma a oferecer aos pacientes um tratamento mais integrado.
"No Brasil, a medicina está muito especializada. O cardiologista cuida do coração, o pneumologista, do pulmão, e assim por diante. Mas, na realidade, o cardiologista também deve estar preocupado com a depressão, ansiedade ou dor, pois essas condições muitas vezes estão associadas", opinou Wang.
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